quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre a Honestidade



Hoje estive a pensar em algumas situações onde a honestidade de uma pessoa é posta à prova. Analisemos algumas :
1- O estudante que estudou por horas a fio para determinado exame e, na prova, não sabe a resposta de uma questão; seu colega ao lado usa uma "cola".Deverá pedí-la?
2- No pagamento de uma compra, percebe-se mais tarde que o troco veio a mais. Deve-se voltar lá e devolver o excedente?
3- Você é muito amigo de uma pessoa que está na fila a aguardar ser atendido. Passaria seu amigo na frente das outras pessoas?
4- Você é uma pessoa muito pobre e encontra uma maleta cheia de dinheiro. Procuraria descobrir o dono e devolvê-la?

Passei por todas as situações acima descritas. Nos meus cursos, envergonhava-me de meus colegas quando usavam "cola" nas provas e tiravam excelentes notas. Minhas excelentes ou más notas eram atestados fiéis do conteúdo aprendido...Várias vezes, tanto eu como meu marido voltamos para entregar o troco a mais para alguém que, por certo, teria de repô-lo ao seu patrão, de seu próprio bolso...Já sofrí a humilhação de ceder meu lugar na fila para alguém que acabou de chegar, por ser amigo do atendente...Já devolví objetos achados ou esquecidos e, lembrei-me de que a situação descrita não é hipotética: aconteceu a poucos anos atrás com um gari...

A impressão que tenho é que a cada dia se torna mais difícil ser honesta em um mundo onde impera o hábito de querer levar vantagem em tudo (a Lei de Gerson...), mais difícil não ser ridicularizada por sê-lo. Creio ter chegado o tempo ao qual Rui Barbosa (1849 - 1923) se referiu no seu célebre e imortal discurso:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto" (In:Obras Completas de Rui Barbosa. "Discursos Parlamentares". Vol.41, t.3,1914. Requerimento de informação sobre o caso Satélite, Sessão de 17/dez/1914)

Por estarem em maior evidência, os políticos costumam ser alvo de maiores críticas. Em verdade, ainda há um longo caminho para uma completa transparência dos gastos públicos; porém, sinto que, mesmo em passos lentos, temos avançado na cobrança da honestidade. Mesmo que às vezes surja uma certa sensação de impunidade, uma coisa é certa: nunca se cobrou tanto, nunca se deu (legalmente) tanto poder de denúncia...E isso é bom.

Talvez o problema da honestidade resida em sua dupla valoração: o outro não pode ser desonesto comigo; mas eu, às vezes, posso ser com ele...Há desonestos maiores e menores (quase inofensíveis), defendemos! E assim se perpetua a desonestidade: hoje nos pequenos gestos, amanhã nos grandes golpes.

Somos desonestos quando nos sentirmos espertos por termos trapaceado em algum negócio do qual levamos vantagem. Criticamos a burocracia do serviço público, mas almejamos lá um cargo para perpetuar essa lentidão ("ganhar muito e não fazer nada"...). Paradoxalmente, trapaceamos, enganamos, mas não gostamos de sermos enganados...Há corruptos e corruptores. Somos corruptos quando agimos com desonestidade e corruptores quando a fomentamos em outrem...

Honestidade é uma virtude que deve ser cultivada em nossos filhos desde tenra idade; devemos advertí-los porém, das agruras de tal virtude: muitas pessoas tê-los-ão na conta de ingênuos, bobos, poderão ser alvo de chacotas...Incentivemos, porém, para que prossigam através do nosso exemplo diário. Apenas assim, creio eu, poderão ocorrer substanciais mudanças no futuro: na política, na sociedade em geral e, talvez o vaticínio do ilustre Rui Barbosa se transforme apenas em uma referência histórica.

5 comentários:

  1. Honestidade é coisa que nasce com a pessoa, isso não se cultiva. Tenho inúmeros exemplos de pessoas próximas que apesar de terem criação que os direciona para a honestidade, agem desonestamente, assim como o contrário.

    Muito bacana o texto.

    ResponderEliminar
  2. Boa noite!

    Uma alegria conhecer seu blog. Parabéns pelas ótimas postagens. O Eterno continue lhe dando sabedoria!

    Medite no Salmo 36.8,9

    abraços, Pr Marcello

    Visite: http://davarelohim.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  3. Não há honestidades vitalícias. Apenas honestos e desonestos em permanente mutação.

    Aplaudo de mãos cheias esta máxima de Nietzsche: "O cinismo é a única forma sob a qual as almas vulgares se aproximam do que seja a honestidade."
    Abraços

    Miguel

    ResponderEliminar
  4. Boa noite Leninha...
    Maravilhoooooooooooosa postagem e pode ter certeza q o bastante para refletir.É fato q ser honesto hoje em dia anda meio fora de moda mas ainda sim prefiro ser cafona...Ela nunca me deixou de me dar bons frutos embora demorem para amadurecer um pouco.
    Um beijo grande.

    ResponderEliminar
  5. Saudades Vania,
    Fico feliz demais ao ver sua obra literária...
    A Blogsfera só tem a ganhar com sua presença
    e escritos dignos do grande poeta que vc é, de fato.
    Há alguns dias não vinha aqui, aproveitei e me alimentei
    de uma farta porção de sua inspiração...
    Hoje vim te ler, e compartilhar com você um presente:
    Sou a poetisa da semana no Blog do VALTER POETA e
    é claro, gostaria que lesse, e caso queira, opine.
    É sempre pra mim um prazer e uma honra saber sua concepção,
    sua opinião, seu parecer.

    Te espero...

    http://valterpoeta.blogspot.com


    Beijinhos...

    Glória

    ResponderEliminar