quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Só e apenas a brincar"


Esta noite… Vale tudo!

Tudo… menos ser infeliz

Vamos todos, as tristezas ignorar

Mesmo que tenhamos dividas para pagar

Mesmo que não haja peru para o jantar

Ou Chanpagne francês para a garganta refrescar

E mesmo que faça um frio de rachar

Ou um calor daqueles onde só nu, o se consegue suportar

Vamos todos com muita euforia esta noite festejar

Embora a maioria de nós cada vez mais pobres estejamos a ficar

Mas a riqueza da felicidade essa… esta noite podemos alcançar

Por isso para quê esta noite a tristeza convidar?

Se podemos muito bem, sem a companhia dela passar

Principalmente numa noite onde só a felicidade deveria reinar

Como tal… Vamos lá então todos “mal nos comportar”

Vamos todos à maioria dos políticos pimenta na língua deitar

Para ver se eles para o ano deixam tanto de aldrabar

Vamos todos, aos principais senhores do mundo as orelhas deles puxar

Até eles se convencer em com a maioria da poluição (entre outras maléficas coisas) no mundo acabar

Vamos também caretas muito feias aos novos preços mostrar

Para ver se eles assustam-se e não queiram, no novo ano entrar

Resumindo… vamos todos esta noite, a nossa até agora, contida euforia libertar

Vamos beber, sorrir, cantar, dançar perdoar, abraçar, beijar e amar

Até os primeiros raios de luz do novo ano de 2010 se avistar

E aí… o melhor será todos nós, um demorado banho de água fria tomar

Para as nossas cabeças e corpos, começarem já a se adaptar

Para os baldes de agua fria, que os próximos 365dias terão para nos dar!

Mas até lá…

O melhor mesmo será, todo mundo, esta noite mal se comportar

Mas cuidado!

Não “estraguem” muito pois amanhã, podem o prejuízo causado não o conseguir saldar…

Tanto mais que eu, com o Ano Novo, estava só e apenas a brincar!


Bom Ano e 2010!

Para todos meus familiares e amigos principalmente a todos aqueles que ao longo do Ano de 2009 compartilharam comigo a sua tão generosa e muito sincera amizade.

Bem-haja a todos vós!


(Imagem by net Google)

A.Soares (apollo_onze)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Existe um Lugar...


Existe um lugar, onde a Liberdade se ergue para lá do pensamento… onde a liberdade escolheu, Viver sem condicionamento… Solto como o vento, não mais se apegou á mente…

Virou costas a uma vida, vivida em vão, para reconhecer que ser Livre, é sim, seguir o Coração…

Existe um lugar, onde só a coragem pode lá chegar… Escutar o Coração, conduz-te a esse local… Um sítio de Paz e sabedoria, que aos olhos do pensamento, jamais existiria…

Sê louco pela Vida, e verás esse lugar, como sendo o Aqui e Agora, basta contemplares… Não! Diz o pensamento, proveniente de uma mente banal… Esquecendo-se assim que a Vida, é a Magia onde tudo é Original…

Existe um lugar, onde tudo na Vida, acontece pela primeira vez… Uma magia, onde a criação se manifesta em tudo e em todos, jubilando por saber quem “É”…

Uma consciência de quem acordou para a Vida e descobriu a simplicidade do momento, um olhar, uma Observação por viver sem condicionamento…

Vivemos e Observamos um Mundo...


Vivemos e observamos um Mundo, o qual na sua superfície não nos identificamos. Guerras, pobreza, doenças, escassez, injustiças, crises, terrorismo, receios, desilusões, sofrimento, etc. São faces da existência que não reconhecemos como fazendo parte integrante, do que consideramos ser Belo, e com sentido. Somos na maioria das vezes, conduzidos a comentar as desgraças de um Mundo que nos serve de palco para a nossa existência.
Um Mundo que na sua essência se revela Mágico deslumbrante e Maravilhoso, onde a Criação a todo o Momento, se transforma em Luz e sombra, uma transformação inexplicável por palavras, apenas contemplada por Presença.
É então que podemos questionar porquê esta realidade, uma realidade que não faz sentido ao Coração, porquê esta divergência entre o palco onde tudo se encena e a peça em si?

A resposta a esta pergunta só se fará sentir na humildade e honestidade de quem reconheceu que “não sabe”, quem finalmente admitiu a si mesmo que “não sabe” o porquê do mesmo.
É no “não saber” que a abertura ao Novo se concretiza, o “não saber” é o primeiro reconhecimento que proporciona a curiosidade em Saber.
A Beleza a Magia o Encantamento que a Natureza e o Mundo nos apresenta, têm a sua origem no seu interior, a sua raiz está no seu íntimo. Assim o é, também a com sua sabedoria, ela está no seu interior pois é lá que está, a sua honestidade, a sua Consciência, não existe maior sabedoria que a humildade de reconhecer a sua Honestidade. A honestidade é então a ferramenta pelo qual adquirimos sabedoria, pelo qual o processo se manifesta.

Vivemos e observamos um Mundo, onde a Observação, partiu de um Homem que se julga separado, eu aqui e o mundo ali. Questione-se e volte-se a questionar, sem questão não existe resposta, sem questão não existe abertura, sem questão não existe entendimento. Verá que viver uma vida sem questões, num mundo que não faz sentido, é como viver um sonho onde se julga perdido. Ramana Maharshi e muitos outros incentivaram a esse questionamento, porque o auto questionamento permite a reflexão, a abertura a experiência, e validação. Uma validação que lhe é legitimo querer validar, contudo é necessário a vontade e a persistência de se auto questionar, para dar lugar ao espaço onde reside a sabedoria, e possa assim se manifestar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

Como Armar Um Presépio

Nascimento de Jesus, 1304-1306; Giotto di Bondonne, Florença



pegar uma paisagem qualquer

cortar todas as árvores e transformá-las em papel de imprensa

enviar para o matadouro mais próximo todos os animais

retirar da terra o petróleo ferro urânio que possa
eventualmente conter e fabricar carros tanques aviões
mísseis nucleares cujos morticínios hão de ser noticiados
com destaque


despejar os detritos industriais nos rios e lagos

exterminar com herbicida ou napalm os últimos traços de vegetação

evacuar a população sobrevivente para as fábricas e
cortiços da cidade

depois de reduzir assim a paisagem à medida do homem

erguer um estábulo com restos de madeira cobri-lo de
chapas enferrujadas e esperar

esperar que algum boi doente algum burro fugido algum
carneiro sem dono venha nele esconder-se


esperar que venha ajoelhar-se diante dele algum velho
pastor que ainda acredite no milagre


esperar


quem sabe um dia não nasce ali uma criança e a vida recomeça?



José Paulo Paes


*Este poema reflete a dessacralização do homem , do meio ambiente, no seu cotidiano e da perda das significações pela humanidade na manipulação e no controle da natureza. E na esperança renovada pelo espírito de Natal, deixo um apelo para a conscientização de todos através desta reflexão poemática. Desejo a todos os leitores e colaboradores do REFLEXÕES DE NÓS, Boas Festas e que o verdadeiro espírito do Natal habite em cada lar e que a sacralidade da vida em cada ser humano e planetária não seja ameaçada pela irracionalidade, abuso e o descaso. (Sam)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Nada Sou!

Nada sou!
Eu nunca existi
Não sou gente, apenas um mito
Sou o um monstro quimérico
Sou a alma da Atlântida perdida
Eu penso...
Mas eu não existo
Eu sonho...
Mas eu em nada acredito
Nada vejo apenas sinto
Sinto a dor do meu encarcerado pensamento
Sinto a fúria do meu escuro silêncio
Sinto a triste mágoa por nada ser
Por tudo aquilo que desejo
Mas que eu, nunca poderei ter
Nada sou!
Eu nunca existi
Estas ocas palavras não são minhas
Foram pensadas numa quinta dimensão
E transcritas pela minha imaginação
Nesta folha virtual de vidro luminoso
Só é pena que ela, não tenha alma nem coração.


A.Soares (apollo_onze)

O Sonho de Navegar...


Em mares navegou, á procura de um porto de abrigo.
Em portos ficou, receoso que o mar não fosse o objectivo.
Foi quando pausou, julgando saber o que fazer.
Abdicou do seu sonho, um sonho de Viver
Não mais olhou, para a Vida com sentido
Escolhera assim a rotina, de quem se julga inserido
Numa sociedade dispersa, perdeu a coragem de ver
A Vida na sua simplicidade, a Magia de apenas SER
De seguir o seu próprio caminho
Que foi a vontade de se conhecer
Hoje sofre pelo amor que teve, na iniciativa por viver
Pois reconhece que o sonho de navegar
Foi sempre o que quis fazer.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sobre natais e fins de ano...

Hoje baseio minha reflexão em uma poesia de meu amigo Alexandre Simas e em um video produzido por meu amigo António Bordalo. Que video belíssimo... confesso que me emocionei... Sua leitura da realidade de milhões, isolados e relegados ao abandono, sua mensagem final de esperança é de uma profunda sensibilidade... Já a poesia de Alexandre é um olhar crítico sarcástico, ferina/irônica fala poética que retira a casca de uma ferida mal cicatrizada, nos remetendo às incongruências de um discurso que não nos diz respeito: há um Natal de hábitos exóticos, uma "tradição" importada e imposta de neves e chaminés, de absurdos casacos e meias de lã... num país tropical... Ambos, poesia e video se complementam...

OUTRO NATAL

Sonhamos com neve sobre o telhado
Em pleno verão tropical
Papai Noel escorregando por chaminés
Em pleno verão tropical
Pinheiros nevados aterrados em presentes
Em pleno verão tropical...
... No país do eterno amanhã

Mesa farta de tâmaras, morangos, avelãs
Maçãs, figos, pêssegos, cerejas, nozes...
No país do caju, da manga, do abacaxi
Da goiaba, da banana, do açaí, do cupuaçú
Da graviola, da pupunha, do tucumã...

Lá fora uma redonda e cheia lua enfeita
Um céu de mil estrelas que pululam tal qual
Balé de vaga-lumes sob um azul quase negro
Embalando o hipnótico sentimento de
Solidariedade em cuja parede pendura-se
O quadro da hipocrisia, pintado com as cores
De nossa cega estupidez, quase irmã

Orgulhosos, distribuímos nossas migalhas
Aos pobres desafortunados...
Tão ou mais ricos dos nossos mesmos sonhos...
... Até acordarem pela manhã

Com a chegada dos soturnos dias de Janeiro
E junto com eles todas as lágrimas da terra
Recomeçando o drama da nova espera
Das caridades do próximo natal
Único dia no ano que a maioria das almas...
... Enxerga sua irmã (Alexandre Simas Costa )






Esta é a época da ostentação de fartura e brilho na pequenez e escuridão de muitos lares (?)... da ilusão de que uma reunião anual transforma em família o que não passa de uma obrigação social... Esta é uma época em que as disparidades sociais mais se evidenciam: convivem lado a lado nos shopping centers aqueles que se alimentarão em excesso e aqueles que se sentiriam gratos pelas sobras dos banquetes, aqueles que se endividam para servir banquetes e aqueles que nada têm para por à mesa...

Esta é a época em que se tenta fazer as pazes com a consciência na distribuição de esmolas do que já não nos serve mais... e a mão esquerda sabe o que fez a direita...

Esta é a época dos apelos à fraternidade, do início dos endividamentos... Nesta época incomoda-nos a mensagem escancarada de simplicidade que o nascimento de Jesus evoca; nesta época dâmo-nos conta de que somos todos de uma única espécie e enxergamos no outro um irmão... mas esquecemos depressa demais e após a pausa do cessar fogo no primeiro dia do ano, lá vamos de novo - a empunhar nossas armas para garantir e relembrar nossas diferenças... Com os bolsos menos cheios, os corpos mais gordos das intermináveis sessões de gula, os cartões de crédito a nos darem as boas vindas ao novo ano...

No dia 26 de dezembro já estará vazio novamente o prato daquele que tão caridosamente enchemos com o que sobrou de nossa ceia; já nos desviaremos novamente do olhar marginal da pobreza; o brilho das luzes faiscantes já terá sido prejudicado pela queima de muitas lampadazinhas; os brinquedos já foram comparados, já foram mostrados e já terão perdido seu encanto de novidade...

Esta é a época dos balanços externos e internos; se aqueles quantificam os lucros e deficits relacionados ao nosso trabalho, nossas atividades comerciais, estes apontam os ganhos e perdas reais qualitativos de nossos relacionamentos, nossos investimentos na conta bancária de nós mesmos enquanto seres humanos. Nesta época, comumente olhamos para os 365 dias que vivemos e, às vezes, dâmo-nos conta de que simplesmente esquecêmo-nos todos de vivê-los por completo... Engolimos apressados os dias, dia após dia culpando a falta de tempo para colocar em prática as nossas promessas de fim de ano...

Porque é comum nesta época um certo sentimento de tristeza, uma nostalgia de tempos de infância? Coloridos, lá estão em nossa memória os tons da afetividade sadia de uma família traduzidos em risos, cheiros de assados no forno, impaciência de crianças na expectativa de sonhos, luzinhas, sinos e cânticos... Talvez, em parte, porque crescemos todos e a magia se perdeu em alguma loja onde vimos nosso presente ser comprado... Talvez isso começou quando passamos a rir daqueles que acreditavam em Papai Noel ou quando descobrimos que não havia Natal em todas as casas... ou quando pensamos que a mensagem natalina é muito bonita, muito profunda, mas impraticável no dia-a-dia de nossa correria: descobrimos que há mais lobos e ovelhas do que homens no mundo! Talvez porque a desigualdade e as injustiças sociais sejam um problema que deliberamos transferir para as mãos do Governo, para as instituições, pois as nossas próprias mãos já estiveram muito ocupadas 365 dias no ano... Talvez porque preferimos lavar as mãos... talvez porque um dia perdemos nossa inocência e, ao invés de brincarmos juntos, passamos a temer que os nossos brinquedos pudessem ser roubados...

Esta é uma época que deveria ser melhor aproveitada. Deveríamos refletir sobre o porquê de sentirmos todos em meio à alegria dos fogos um certo vazio interior que insiste em nublar o céu de nossos propósitos e promessas. Deveríamos pensar mais no porquê de tanta mutilação a nós mesmos e ao outro na busca desenfreada de um status que prioriza o ter à revelia do ser...

Que neste Natal possamos doar bem mais que nossas sobras: doemos de nós mesmos! De nossa amizade, nossos ouvidos, nosso olhar! Que nossa boca sirva à denúncia, que nossos atos testemunhem nossa responsabilidade social, que nossas mãos distribuam mais que alimento, que afaguem e se prestem à solidariedade comprometida! Que nossos saberes sejam usados na construção de pontes a unir homens e não interesses econômicos! Que nossas armas sejam a Razão, a Ciência, a Literatura, a Música, as religiões postas a serviço do homem e não a seu desfavor! Que sejam instrumentos de união e não de fratricídios, de exclusões sociais, de disseminação de falácias, de ideologias alienizantes, de lógicas aplicadas à segregação, à justificativa da dominação de muitos por alguns...

Que nossas famílias possam se sentir unidas e não se limitem suas reuniões ao sentimento de uma obrigação social; que o presente mais valioso que possamos dar aos nossos filhos (e que eles esperem receber) esteja desvinculado de um valor monetário; que o alimento que oferecermos sacie o outro de uma fome moral; que não se sinta humilhado aquele que recebe, nem se envaideça o que doou; que cumpramos os nossos prometidos se promoverem nosso aprimoramento pessoal; que vivamos realmente os dias do novo ano; que paremos de ser hipócritas, que deixemos nossa inércia, que enxerguemos o que se passa a nossa volta e paremos de tropeçar nos obstáculos criados por nossa própria pequenez!

Esta época traz-nos mais uma oportunidade de resgate, de construção e reconstrução de valores. A Mensagem está a cada dia mais se enfraquecendo, pois já não lhe damos valor... Aproveitemos todos esta época que nos sugere que o mal estar que sentimos deve-se à nossa falta de comprometimento com o essencial... Mais que aquele do qual Exupéry disse ser "invisível aos olhos", o essencial é por vezes tangível: esbarramos nele a cada dobra da esquina, a cada vez que ligamos a TV e ouvimos os noticiários, a cada vez que sabemos que o aroma de nossa mesa farta chega pelo vento - apesar de nossos muros - ao casebre de alguém que tem fome..., a cada vez que sabemos do injusto e cruzamos nossos braços.

De nada servem os apelos sentimentais se os esquecemos tão céleres após a ressaca dos nossos excessos no dia seguinte...Soam tão longínquos como a neve, as frutas exóticas e caras, as meias de lã e as chaminés por onde entrará um Papai Noel que não se suja... Para que tenhamos realmente um "Feliz Natal" é urgente não esquecer que somos responsáveis pelo Natal feliz do nosso "inimigo"; para que exista realmente um "feliz Natal" é urgente saber que a Mensagem também se aplica a ele e, só se efetiva na prática, quando já não há mais "inimigos"... Para que existam felizes natais é necessário nos desvincularmos da ideia assistencialista que promove campanhas sazonais e imediatistas e se dê incentivo às reais condições de melhoria de vida (emprego digno, educação e saúde de qualidade, por exemplo) da população.

É necessário entender que a fome aplacada de hoje voltará amanhã, e também, que no final do ano que vem poderá voltar aquele sentimento de vazio interior ao qual me referí... Porque mascaramos todos as reais necessidades, já estarão nossas crianças a desejar outros brinquedos (talvez nem esperem este dezembro terminar...), continuarão nas ruas os marginalizados sociais, estaremos nos preparando todos para novos endividamentos com gastos supérfluos, proporemos novamente mudanças interiores e nos encheremos de ânimo para cumprir velhas promessas... Até quando? Pensemos todos nisso. Deixo a todos um sincero e fraternal abraço de Natal... de um real e feliz Natal para todos os homens. E que venha 2010! E que nos encontre a todos despertos!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quando o "Não Saber" se torna Saber


Quando o “não saber” se torna Saber

São inúmeras as vezes em que o Homem, não sabe como vai ser, ou como fazer no futuro. O não saber é realmente uma característica essencial da Vida, contudo o ego, o Homem julga e pensa a todo o momento que sabe. Juntamente a este saber, está a necessidade de controlo sobre o futuro.

Porém a Vida demonstra-nos que “não saber” é um estado natural da própria Vida, é algo inato e pertencente á própria Vida. O “não saber” é algo óbvio mas muitas das vezes ignorado, por parte do ego. O Homem tenda sempre saber no momento Presente, o que vai suceder no futuro, por isso mesmo ele planeia, e organiza quais os passos a dar.

O “não saber” é Vital para a Vida, isto porque é na surpresa, na espontaneidade, originalidade que a Vida se desenrola, é nessa incógnita que surge o Novo e a Magia de estar Vivo.

Quando afirmamos que sabemos, o novo não é constatado, e a sua revelação ocultada. Tudo isto em prol de um pensamento que teima em afirmar que sabe. Mas a Vida têm vindo a demonstrar que nada sabemos, e que a insistência no simples “julgar saber”, nos conduz a um ciclo vertiginoso e stressante sem saída.
Prova disso é a suposta vida que julgamos ser vida, e que se está a manifestar em todo o mundo, a teimosia em afirmar que sabemos está a conduzir-nos a um ciclo cada vez mais evidente. Um ciclo onde o tempo aprisionou a mente ao objectivo que foi julgar saber algo fora do momento, que intitulamos como futuro.

O que intitulamos como tempo é então esse “julgar saber”, o Homem julga que sabe, pensa que sabe, como vai ser o amanhã, como controlar a sua vida, as suas finanças, os seus relacionamentos, etc. Todo este “julgar saber” está a entrar em colapso, pois a “suposta sabedoria” aniquila a Vida, aniquila a originalidade e a vinda do novo, isto porque quando alegamos que sabemos, logo o novo é esquecido para dar lugar ao velho, ao repetitivo. Contudo a Vida jamais se pode aniquilar, e a persistência nesta ilusão conduz o Homem ao “seu” despertar.

Muitos estão lentamente a reconhecer este “não saber”, estão finalmente a admitir a sua incapacidade para com o controlo de si mesmo. Este controlar de si mesmo, está a desmoronar-se, e com isso a cedência à própria vida. O baixar as armas, para aceitar que “não sabe”, está finalmente após muita dor e sofrimento a tornar-se uma realidade, lentamente a coragem substitui esse saber, para dar lugar á fé, ao Coração, e á Vida. O que julgávamos saber deixa assim de fazer sentido, para dar lugar ao momento. Este reconhecimento liberta assim o Homem das amarras do tempo, liberta-o do futuro da ilusão que é viver em controlo de si mesmo.

O verdadeiro Saber é então revelado

A revelação surge com a abertura e a cedência dos velhos padrões de comportamento, a maior sabedoria é então revelada como sendo essa mesma “SABER que não sabe”, Saber que o que em tempos julgava saber, era apenas isso um julgamento um pensamento, e nada mais.
O “Não Saber” torna-se assim a LUZ que o guia, neste estado a Vida se encontra Aberta á Magia, vivendo o momento de forma plena, com fé e coragem o Homem não ignora a Vida, mas sim, abraça-a admitindo que não sabe, ele permite que a Vida flua e lhe demonstre como Viver.

A Consciência está assim Livre para SER o momento, que sempre foi, É e será.

PAZ

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre o Povo


Há uma poesia belíssima de Cora Coralina intitulada ORAÇÃO DO MILHO. Ao lê-la preparei esta reflexão.

ORAÇÃO DO MILHO

Senhor, nada valho!
Sou a planta humilde dos quintais e das lavouras pobres.
Meu grão perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e hastes e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta de acaso solitária, dou espigas e devolvo, em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura, não me pertence a hierarquia tradicional do trigo e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou o pão da vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra onde não vinga o trigo nobre; sou de origem obscura e de ascendência pobre, alimento dos rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques coroados de rosas e espigas; quando os hebreus iam em longas caravanas buscar na terra do Egito o trigo dos faraós; quando Rute respigava cantando nas searas de Booz e Jesus abençoava os trigais maduros, eu era apenas o Bró, nativo das tabas ameríndias.
Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário; sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga, o que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis,
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado,
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece,
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos,
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós, Senhor, que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho!


Lendo esta belíssima criação de nossa Cora Coralina, não conseguí evitar uma associação entre o milho e o povo. Acostumâmo-nos a singularizar pessoas e não povos. A História é feita de nomes: alguns odiados, outros memoráveis, nomes estes oriundos do anonimato, geridos na multidão de sem nomes...

Ao povo cabe o múnus de ora forjar heróis, ora mártires... Dele saem as forças armadas ou os voluntários da ajuda humanitária ao modo de um supra povo...

Ah, esse povo que elege seus líderes e se verga sob o peso do esquecimento daquele que alçou ao poder... Esse povo cheio de fé e boa-fé que coloca sua vida - orações vivas - no altar dos dias...de trabalho...todos os dias ao levar à mesa, por vezes, mirrado, seco pão temperado de suor que alimentará um novo líder... Povo que vota como quem diz "eu confio em você, você saiu de mim"... e se queda triste qual mãe a se entristecer com a ingratidão do filho...

Em cada batalha da História, em cada guerra que ainda hoje se trava - povo contra povo -, quantas vidas ceifadas para que a certeza de um povo se imponha em suas verdades ou mentiras , para que um povo se perpetue em seus avanços e recuos... Povo-alimento dos grandes nomes, "fartura generosa e despreocupada" dos grandes feitos...segue o povo no anonimato tecendo a História, imolando-se e tornando-se cinza de corpos sem medalhas ou condecorações, sem constar dos livros de História...

Povo que se insurge, por vezes, em revolta; povo às vezes expulso, refugiado em outros povos, emigrante forçado: é o Estado voltando as costas a quem o criou, à semelhança de pai a expulsar o filho de casa... Povo que é braços, pernas, pés e mãos, corpo que alimenta o cérebro da Nação...

Esse povo "que põe folhas e hastes" em qualquer pedaço de chão retribui com "espigas" e muitos novos, heterogêneos grãos à terra de homens... Povo que canta, dança e rí esquecendo suas tristezas, que tem orgulho de ser povo na alegria de seu folclore, de suas lendas, de seu saber "não científico" e, que se entristece com as armas, com os novos hábitos, com a incompreensão de outros povos, com o jeito do Futuro se impor...

Povo que não quer deixar de ser povo... que entende da sua "humildade e necessidade"...que sabe cantar - qual galos - a alegria de gerar nomes; que alimenta com fartura de risos e amor aquele que com suas palavras e atos alimentará sonhos de povos...

Povo que, por vezes, envereda por caminhos que não escolheria...se pudesse. Povo que se dilui em outros povos e vê triste e impotente a destruição de sua cultura... povo que retribui enriquecendo a cultura que os absorveu...

Ao pensar em "povo", penso em mim. Nada tenho da singularidade que me destacaria do povo. Cabem-me todas as palavras da poetisa e, dou-me conta, agradecida, de que minha "humildade" é essencial e necessária. Sim, sou mesmo a planta comum e forte a lançar meus grãos-mensagens neste chão - ora fértil, ora estéril ... Da hierarquia do "trigo" nem cogito...sou planta hibridizada por beija-flores... fortes-frágeis beija flores...

domingo, 6 de dezembro de 2009

Foi quando acordei...


Certo dia, Sofia uma Mulher jovem passeava no jardim perto da sua casa, o hábito de passear era frequente e tornara-se assim depressa num ritual.
Nesse dia algo estranho e fora de vulgar aconteceu, Sofia interrogou-se sobre a sua própria existência, quem seria ela e qual o propósito da Vida? A questão que colocara a si mesmo pretendia uma resposta honesta, válida e simples. Sem teorias, sem memorias, sem limitações, algo que fosse indiscutível evidente e autentico, algo que fosse válido por experiencia própria, e não por influencia de terceiros.

Durante a sua caminhada, contemplando o Jardim e todo o espaço envolvente, Sofia deparou-se com algo óbvio, mas que de certa forma captou a sua atenção. A Vida á sua volta estava constantemente acontecendo, tudo estava sucedendo independentemente da sua Presença, apercebera-se naquele instante que tudo se assemelhava a um filme. O pássaro que esvoaçara á sua frente, o autocarro que buzinou fortemente nas traseiras do jardim, o raio de Sol que a ofuscara por momentos, e o riso de uma criança que brincava alegremente com uma bola no jardim.
Ainda durante este momento a atenção também ela se alterou, algo de certa forma claro e natural aconteceu, a atenção sobre o filme contemplava também a sua presença. Agora também o seu corpo fazia parte do filme, a sua personagem estava inserido no filme, e também a sua figura parecia estar constantemente alterando-se, os pensamentos as emoções os sentimentos tudo agora era um filme, que Observava cautelosamente.

Sofia apercebera-se que em si a testemunha da Vida era a sua Consciência, que a Consciência tudo albergava, incluindo o que ela intitulava como sendo ela mesma. Tudo estava, está e estará na sua Consciência, nada absolutamente nada, poderia se manifestar fora dela, toda a sua realidade tinha que necessariamente passar pela sua Consciência. Foi então que Sofia resolveu comprometer-se a simplicidade da sua Consciência, sabia que as respostas às suas perguntas teriam que surgir aí. Juntamente com esta decisão Sofia descobriu ainda a importância da Honestidade. Sabia também agora, que a honestidade seria a ferramenta pelo qual acederia às respostas.

Se “Agora” tudo era um filme do qual Sofia tinha Consciência então porque não Observar filme, estar atento a tudo e a todos incluindo-se a si mesma.
Sofia “sem saber” iniciou o “seu” processo de despertar, a capacidade de Observação foi revelando assim o que viria a SER o despertar de um sonho.

Hoje Sofia sabe quem “É” hoje acordou de um sonho que em “tempos” sonhou, para sonhar o sonho real que é estar acordado para Magia que é SER Vida


PAZ

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

(Sossego Emocional)

Eis que o sossego emocional chegou!
Repouso neste meu tão almejado silêncio branco
Só eu… e a minha tranquila respiração
Só eu… e o meu abstracto olhar
Só eu… e a minha desanuviada audição
Eis que por fim… tudo terminou!
Desisti de em quase tudo e… em quase todos acreditar
De ouvir dizer sim! E pouco tempo depois, alguém isso negar
De pedir ajuda mas para isso, mais tarde com altos juros, ter de pagar.
Convenci-me finalmente…
Que alguns dos meus amigos e familiares
Se renderam ao reino do egoísmo e da conveniência
Passando a serem, súbditos da deplorável incoerência.
Convenci-me finalmente…
Que há mais quem minta, do que fale a verdade
Daí, e talvez, uma boa mentira “valer mais”… que mil verdades.
Ver para crer… é hoje em dia, o lema da maioria da humanidade
E mesmo assim, cada vez mais, proliferam tamanhas falsidades.
Convenci-me finalmente…
Que há mais quem ame por mera e fugaz ilusão
Do quem ame, com extrema e contínua dedicação.
Alguns amam louca e incondicionalmente, no acto do prazer carnal
Mas detestam-se facilmente logo que algo, começa a correr mal.
Convenci-me finalmente…
Que o ritmo da vida é, e será sempre igual
As palavras, os gestos, os passos, os dias, as estações se repetem
As injustiças sociais e o desrespeito pela vida prevalecem
Que o mundo embora pareça tão esplendoroso, é todavia… tão desigual.

Eis que o sossego emocional chegou!
Mas infelizmente…
A minha mente, a este silêncio branco, não se consegue adaptar
A ausência do repetitivo fragor humano faz-me como que, sufocar
Não… não consigo por mais tempo, esta minha utopia perpetuar
É-me de todo impossível neste silêncio branco poder respirar.
Preciso urgentemente de, ao estrépito desassossego regressar
Sim!
È estúpido e incompreensível mas eu, já não consigo passar
Sem este amaldiçoado desassossego que me faz, assim contrariar
Este meu louco desejo de ao sossego, eu hoje, finalmente mergulhar.
Quiçá para isso, tenha primeiro de, a minha alma ter de purgar
Para então, eu poder, no mais puro sossego, eternamente repousar.

E hoje;
O meu tão almejado sossego emocional…
Assim… tão precocemente, para mim terminou!



A-Soares (apollo_onze)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Onde nos conduz a ignorância?


Só existe dois resultados possíveis provenientes da ignorância. O seu reconhecimento, que conduz a um estado de sabedoria e com isso a Consciência sobre o mesmo. Ou a sua indiferença face á ignorância, que reverte a um maior grau de Ignorância, por outras palavras Inconsciência.

É então fácil de constatar que os resultados são distintos, um revela Inconsciência, e o outro Consciência. A Ignorância surge assim como um factor essencial para o florescimento de um, e a decadência do outro.

Quando desconhecemos algo, ou seja “não sabemos algo”. A nossa atitude perante o mesmo pode ser proveniente, de um estado Consciente ou Inconsciente. Quer isto dizer que podemos reconhecer que não sabemos, ou podemos por e simplesmente ignorar o facto que não sabemos.
Por outras palavras é nos possível ignorar a ignorância em nós. O livre arbítrio permite isso mesmo.

O reconhecimento da nossa ignorância, revela sabedoria, pois o Homem constata que não possui conhecimento, referente ao assunto em causa. Este estado de reconhecimento é sinónimo de autenticidade e honestidade para consigo mesmo, que por sua vez o conduz a um estado de Graça, de abertura e receptividade para com a Vida.

Quando alegamos que sabemos algo, que na verdade não sabemos, a chegada do novo não se pode realizar, isto porque todo aquele que alega saber, está preenchido e com isso fechado para a Vida.

A Vida dita, que para sabermos algo, temos de estar abertos e receptivos para a aprendizagem e constatação do mesmo.
O simples acto de andar de bicicleta, teve inicio num certo e determinado período da vida. Hoje aquele que sabe andar, nesse mesmo período esteve aberto e receptivo á experiencia, que foi aprender e experienciar o acto de andar de bicicleta.

A Vida é então, sinónimo de experiencia, o Homem têm de experienciar, para depois validar a sabedoria adquirida pelo mesmo.

São inúmeras as pessoas que actualmente, falam e mencionam um sentido para a Vida. Os mestres, os Gurus, correntes filosóficas e religiões, de uma forma ou de outra, mencionam isso mesmo.
Contudo o cepticismo juntamente com o: “eu sei” ou “eu não quero saber”, permanece na sociedade actual, de forma inalterável. São realmente poucas as pessoas que lentamente demonstram uma curiosidade, e honestidade face ao verdadeiro saber.

A própria palavra “verdadeiro” levanta as suas suspeitas, pois num mundo cheio de contradições, como saber onde está a verdade? o leitor pode muito bem neste preciso momento, questionar, o que significa verdadeiro? Como será possível realmente encontrar o verdadeiro sentido para a Vida? Como saber, que esse sentido, é o verdadeiro?

Todas estas questões são legítimas, e pertencem ao estado do “não saber”, porém podemos validar o saber, no momento em que sabemos. Para sabermos algo, como sendo verdadeiro temos que necessariamente experienciar esse mesmo algo.
Tomemos o seguinte exemplo:

O Leitor sabe que possui um ecrã á sua frente, não pensa, nem julga ter, um ecrã, a sua frente. Isto porque o ecrã que está a sua frente faz parte da experiencia do momento, uma experiencia que lhe é validada, pelas palavras que neste momento está ler.
Você o momento e o ecrã são “UM”, a Consciência e a experiencia do momento é Una, logo é verdadeira para si. Questionar esta verdade é questionar a própria veracidade da questão que o leva a questionar.
Diz-nos a experiencia, que a experiencia é Vida, pois sem ela, o simples acto de estar a ler neste momento, não seria possível.

Quando não sabemos, admitindo, esse nosso “não saber”, e reconhecemos o mesmo, a abertura é inevitável, pois o simples reconhecimento permite-nos esse estado.
Encontrar um sentido para a Vida, encontrar a razão pelo qual estamos cá, saber o que somos como Vida, é legítimo e uma questão fundamental na felicidade plena do SER Humano.

Abrir nos á Vida é reconhecer que a Vida é experiencia e abertura, uma abertura que nos conduz á Magia de estar Vivo neste planeta.
Dizer que sim, dizer que talvez, ou dizer que não, sem o SABER. Revela fecho para com mesma. Dizer eu não sei mas estou disposto a saber, é permitir-se a si mesmo á experiencia.

Não acredite nas palavras, mas sim na experiencia, valide por si mesmo, constate por si mesmo, então sim será sábio, porque sabe.

Compete a si, questionar-se, se sabe, se quer saber, ou se por e simplesmente não lhe interessa, o livre arbítrio é seu. Entre ignorar a ignorância, ou optar por reconhecer a mesma, vai um passo sublime, mas de certa forma gigante para com a sua Honestidade.

Não acredite nas palavras, mas sim na experiencia, valide por si mesmo, constate por si mesmo, então sim será sábio, porque sabe, o verdadeiro estado de graça que é o poder por detrás do “não saber”


PAZ

domingo, 29 de novembro de 2009

O Poder da Tranquilidade na Vida de cada um


O poder da Tranquilidade

3 Dias se passaram desde a última aventura que o meu coração me proporcionou, talvez o suficiente para escrever o que se segue. Foi á sensivelmente 2 meses atrás que a vontade de seguir rumo ao deserto e a África que tudo começou. A experiencia inesquecível e inexprimível por palavras, conduziu-me então uma vez mais ao momento de magia que é viver uma Vida segundo a vontade do Coração.

Hoje, após esta experiencia, a maturidade fruto de quem vivenciou e validou em primeira mão tais momentos, permitiu-me mais uma vez exprimir, partilhar de forma tranquila e sábia, para comigo mesmo, e para quem mais possa estar interessado.

Tranquilidade, é a face da Vida que se reconheceu a ela mesma como sendo a própria Vida. Hoje reconheço que tranquilidade nada tem a ver com segurança, mas sim com a certeza que tudo esteve, está, e estará sempre bem. A Vida que busca segurança é aquela que vive na insegurança, pois para se procurar um, temos que necessariamente experienciar o outro. Esta busca por tranquilidade, faz parte de um processo pelo qual a vida tem de passar. Contudo é apenas um processo, um degrau, que uma vez transposto mostrar-lhe á, a natureza do mesmo. Não existe nada de errado em procurar segurança, porém todo aquele que for persistente, verá que a procura o conduzirá a um ciclo que se auto perpetua de forma ilusória, e a seu tempo saberá o porquê do mesmo.

Por entre aventuras em pleno deserto, montanhas ou em terra de ninguém, a originalidade do momento presente preenchia a vida de forma sublime e mágica. Em terras distantes os momentos apresentavam-se como uma constante aventura, entre magia e momentos de extrema felicidade, aparentes percalços “mentais” se faziam sentir, porém a sua natureza revelava-se ilusória fase a sabedoria de quem tinha descoberto o autêntico sentido da palavra tranquilidade.

A verdadeira Tranquilidade não se busca, Vive-se. Só podemos afirmar que estamos tranquilos quando assim o experienciamos. A busca significa a sua ausência, significa que carecemos desse estado, vivenciar a tranquilidade é SER a tranquilidade, é saber que a Vida quando Consciente dela própria é sinónimo de tranquilidade, Paz. O poder da tranquilidade é a própria tranquilidade, Viver neste estado, é viver livre de insegurança, de intranquilidade e perturbação, tal estado só é possível quando vivenciado, experienciado e validado. Para que isso seja realizável temos que reconhecer a natureza e a causa dos nossos medos, como sendo o único e exclusivo responsável pela ausência da tranquilidade. Quando constatamos a natureza do medo, reconhecemos a natureza ilusória do mesmo, todo o medo incide no futuro, num presumível resultado que ainda não aconteceu. No momento em que temos medo de algo, o resultado desse algo, nesse momento ainda não aconteceu, logo não é real, o Homem afasta-se do momento presente que é pura tranquilidade, para viver um estado ilusório que é o medo.

Viver a tranquilidade é SER a tranquilidade é ser uno com o momento, é reconhecer que o medo, que surge em forma de pensamento é apenas isso, um mero pensamento com principio meio e fim, que possui a credibilidade que atribuirmos. A liberdade concede-nos essa escolha, e por fim essa experiencia, podemos optar por Viver com medo, fechados para a vida, ou com abertura e Amor para com a Vida.

O poder da tranquilidade, transporta-nos para uma dimensão mágica que é Realmente Viver a Vida.



A todos Paz

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre a Honestidade



Hoje estive a pensar em algumas situações onde a honestidade de uma pessoa é posta à prova. Analisemos algumas :
1- O estudante que estudou por horas a fio para determinado exame e, na prova, não sabe a resposta de uma questão; seu colega ao lado usa uma "cola".Deverá pedí-la?
2- No pagamento de uma compra, percebe-se mais tarde que o troco veio a mais. Deve-se voltar lá e devolver o excedente?
3- Você é muito amigo de uma pessoa que está na fila a aguardar ser atendido. Passaria seu amigo na frente das outras pessoas?
4- Você é uma pessoa muito pobre e encontra uma maleta cheia de dinheiro. Procuraria descobrir o dono e devolvê-la?

Passei por todas as situações acima descritas. Nos meus cursos, envergonhava-me de meus colegas quando usavam "cola" nas provas e tiravam excelentes notas. Minhas excelentes ou más notas eram atestados fiéis do conteúdo aprendido...Várias vezes, tanto eu como meu marido voltamos para entregar o troco a mais para alguém que, por certo, teria de repô-lo ao seu patrão, de seu próprio bolso...Já sofrí a humilhação de ceder meu lugar na fila para alguém que acabou de chegar, por ser amigo do atendente...Já devolví objetos achados ou esquecidos e, lembrei-me de que a situação descrita não é hipotética: aconteceu a poucos anos atrás com um gari...

A impressão que tenho é que a cada dia se torna mais difícil ser honesta em um mundo onde impera o hábito de querer levar vantagem em tudo (a Lei de Gerson...), mais difícil não ser ridicularizada por sê-lo. Creio ter chegado o tempo ao qual Rui Barbosa (1849 - 1923) se referiu no seu célebre e imortal discurso:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto" (In:Obras Completas de Rui Barbosa. "Discursos Parlamentares". Vol.41, t.3,1914. Requerimento de informação sobre o caso Satélite, Sessão de 17/dez/1914)

Por estarem em maior evidência, os políticos costumam ser alvo de maiores críticas. Em verdade, ainda há um longo caminho para uma completa transparência dos gastos públicos; porém, sinto que, mesmo em passos lentos, temos avançado na cobrança da honestidade. Mesmo que às vezes surja uma certa sensação de impunidade, uma coisa é certa: nunca se cobrou tanto, nunca se deu (legalmente) tanto poder de denúncia...E isso é bom.

Talvez o problema da honestidade resida em sua dupla valoração: o outro não pode ser desonesto comigo; mas eu, às vezes, posso ser com ele...Há desonestos maiores e menores (quase inofensíveis), defendemos! E assim se perpetua a desonestidade: hoje nos pequenos gestos, amanhã nos grandes golpes.

Somos desonestos quando nos sentirmos espertos por termos trapaceado em algum negócio do qual levamos vantagem. Criticamos a burocracia do serviço público, mas almejamos lá um cargo para perpetuar essa lentidão ("ganhar muito e não fazer nada"...). Paradoxalmente, trapaceamos, enganamos, mas não gostamos de sermos enganados...Há corruptos e corruptores. Somos corruptos quando agimos com desonestidade e corruptores quando a fomentamos em outrem...

Honestidade é uma virtude que deve ser cultivada em nossos filhos desde tenra idade; devemos advertí-los porém, das agruras de tal virtude: muitas pessoas tê-los-ão na conta de ingênuos, bobos, poderão ser alvo de chacotas...Incentivemos, porém, para que prossigam através do nosso exemplo diário. Apenas assim, creio eu, poderão ocorrer substanciais mudanças no futuro: na política, na sociedade em geral e, talvez o vaticínio do ilustre Rui Barbosa se transforme apenas em uma referência histórica.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que nos revela a Vida?


O que nos revela a Vida?

De certa forma todos os Mestres nos incentivaram a Observar a Vida, nas diversas religiões, como o Cristianismo, Budismo, Hinduísmo, etc. Está directamente ou indirectamente mencionado o acto de Observação, como factor essencial á percepção e entendimento ao sentido da Vida.

Vigiai, disse Jesus, Contemplai disse Krishna, Meditai disse Buda, todos eles realçaram a importância da Observação, na vida de cada um.
Podemos deixar em aberto que tal mensagem, estimula a possibilidade de que a Vida possui algo para nos revelar e mostrar, provavelmente o seu “verdadeiro sentido”.

Porquê Observação? Porque na Observação está o poder do discernimento, o poder de ver a Vida como ela real/mente “É”.

Quando Observamos a Vida, quer seja uma emoção, um sentimento, uma situação familiar, de trabalho, de lazer, ou apenas uma paisagem. É nos possível constatar 2 formas distintas de o fazer. A Observação pode ser conduzida de forma Consciente, ou de forma inconsciente, ambos conduzem a resultados diferentes.
A Observação Consciente, está isento de interpretações, isento de pensamento, julgamentos e opiniões, a Observação Consciente apenas contempla, constata assim a Natureza a essência do momento e da realidade.
A Observação Inconsciente, é a Observação pelo qual a Vida é alvo de pensamento, julgamento e opinião. Neste caso a Vida é condicionada, e algo é adicionado á realidade e a essência da Natureza.

Em qualquer dos casos a Observação “Consciência” antecede ambos. Isto significa que homem possui livre arbítrio na Interpretação ou não interpretação sobre o que Observa.
Ora ele, Observa com interferência da mente, e com isso o pensamento, julgamento ou opinião surge, interferindo e rotulando a natureza da realidade Observada. Ora ele, Observa sem pensamento, sem opinião e sem Julgamento.
Quando assim acontece algo lhe é revelado, algo incrivelmente óbvio, mas indescritível por palavras.

Alguém em tempos disse: “ A Vida não é apenas o pensamento, mas sim todo o momento”

Assim como as emoções os sentimentos, também o pensamento têm o seu lugar na Vida, como tudo resto. Mas como a frase indica, “têm o seu Lugar”.
Isto significa o óbvio, o pensamento serve a vida, mas não é a Vida.

Encontrar um sentido na Vida, não é pensar na Vida mas sim contemplar a Vida, essa contemplação, Observação, Meditação, inclui tudo, porque tudo é a VIDA.

Inclui o seu pensamento, o seu julgamento, a sua opinião, e por fim você.

Descobrir, significa ver algo que esteve em tempos “coberto” e que não era visível, nem perceptível. A Vida têm algo para nos revelar que está presente nela mesma, em si mesmo, e Observação é a “chave” para revelação.


O pensamento serve a Vida, como o arado serve terra. Utilizar o pensamento para o seu propósito que é servir, é SER sábio. Utilizar o pensamento para conduzir a sua forma de viver, é deixar SER a Vida para passar a ser o arado.

PAZ

sábado, 21 de novembro de 2009

São Francisco: Capítulo Final; Milagres



Milagres

A vida de Francisco foi ilustrada por numerosos milagres. Pães que abençoou curavam muitos doentes. Transformou água em vinho que devolveu a saúde a um doente e muitos outros.
Quando se aproximou de seu fim, enfraquecido por longa doença, pediu para ser colocado sobre a terra nua, chamou para junto de si todos os irmãos e fazendo a imposição das mãos abençoou-os e como na ceia do Senhor deu a cada um deles um pedaço de pão, convidando a todas as criaturas para louvar Deus. A morte, também era convidada a receber a sua hospitalidade, acolhida com carinho e dizendo-lhe: “ Seja bem-vinda, minha irmã morte”. Quando chegou a sua hora final, um frade viu a sua alma com forma de estrela, semelhante à lua em tamanho e ao sol em esplendor.

Uma mulher, que fora beata de Francisco morreu, e em torno de seu caixão fúnebre estavam clérigos e padres, quando de repente ela se ergueu e, chamando um dos sacerdotes, disse-lhe: “ Quero me confessar padre. Eu estava morta e destinada a permanecer em uma dura prisão porque ainda não confessara um pecado, mas São Francisco orou por mim, concedeu-me voltar a meu corpo a fim de que, depois de ter revelado esse pecado, possa obter a paz diante de todos vocês”. Então ela se confessou, recebeu a absolvição e depois adormeceu no Senhor.

Um pobre devia certa soma de dinheiro a um rico, a quem rogou, por amor de São Francisco, que prorrogasse o prazo. O rico respondeu com soberba: “ Eu o prenderei em um lugar onde São Francisco nem ninguém poderá ajudá-lo “. E imediatamente mandou acorrentar e trancar aquele homem em uma prisão escura. Pouco depois, São Francisco apareceu, quebrou as portas do cárcere, rompeu as correntes que prendiam o homem e reconduziu-o incólume para casa.

Um cavaleiro que zombava das obras de São Francisco e de seus milagres, certo dia estava jogando dados quando cheio de loucura e incredulidade, disse aos assistentes: “ Se Francisco é santo, que venha um lance de 18”. Imediatamente os três dados caíram no número seis, e isso em nove lances seguidos. Contudo cada vez mais insensato, ele disse: “ Se é verdade que é santo, que hoje meu corpo caia varado por uma espada, se não é santo, que eu saia incólume”. Quando o jogo acabou, para agravar a prece, insultou o seu sobrinho, que enfiou uma espada nas vísceras do tio e o matou no mesmo instante.

Um homem tinha a perna tão doente que não podia fazer nenhum movimento, e invocou São Francisco: “ Ajude-me, São Francisco, agora que morro nos mais atrozes tormentos lembre-se de minha devoção por você e dos serviços que lhe prestei, carregando-o em meu asno, beijando seus santos pés e mãos”. Imediatamente o santo apareceu com um pequeno cajado em forma de tau, tocou o lugar dolorido e estourou um abcesso. Assim ele ficou curado, mas a marca do tau permaneceu sempre naquele lugar. Era com essa letra que São Francisco costumava assinar suas cartas.

Em Castro Pomereto, nas montanhas da Apúlia, uma jovem, filha única, morreu. Sua mãe, devota de São Francisco, ficou absorta em profunda tristeza e ele apareceu: “ Não chore, pois a luz de sua luminária, que você lamenta como se estivesse apagada, lhe será devolvida por minha intercessão”. A mãe recuperou a confiança, e invocando o nome de São Francisco não deixou levar o corpo da filha morta, que se levantou incólume.

Em Roma, um menino caiu da janela de um palácio e morreu imediatamente. O bem-aventurado Francisco foi invocado e o menino devolvido à vida em seguida. Na cidade de Sezza, ao desabar, uma casa esmagou um jovem; seu cadáver já estava no caixão para ser sepultado, quando a mãe invocou o beato Francisco com toda a devoção de que era capaz e por volta da meia-noite o filho bocejou, depois se levantou curado e prorrompeu em palavras de louvor.

O frade Tiago de Rieti atravessara um rio em um bote com outros irmãos, que já haviam descido na margem, e quando ele próprio se preparava para sair, o barco virou e ele caiu no fundo do rio. Os frades puseram-se a invocar o bem-aventurado Francisco pela salvação do afogado, que também implorava de todo coração, como podia, o socorro do beato Francisco. Graças a isso o frade andou no fundo da água como se estivesse em terra firme, apanhou o bote submerso e foi com ele para a margem. Suas vestes sequer ficaram molhadas e nenhuma gota atingiu a sua túnica.


Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Na Colina



Abro as janelas do teu quarto. Deixo para trás os odores do nosso corpo, a cama despida de amores corrompidos quando não estão unidos.
A brisa entra de mansinho e sinto – me sufocar. Respiro em lufadas devagar. Olhas-me e dizes que a próxima vez será para breve e como sempre no mesmo lugar. Sinto-te o gosto, o cheiro, tacteio-te com o meu olhar e não consigo ver nada. A escuridão hoje está presente nos teus olhos cor de pedra pomos.
Fixas-me o corpo nu procurando as curvas que gostas de admirar. Sinto-me nua! Estou nua de espírito e tu não vês… Aproximo-me devagar afagando-te os cabelos. Beijas-me com ternura e paixão, sinto que vivo a nossa ilusão.
Fecho os olhos e vejo para além do quarto, enquanto estamos afogados um no outro a paisagem bela que percorre o exterior da casa.
Peço-te mais uma vez, quem sabe a última então que não faças promessas em vão, daquelas que são impossíveis, só cabem em corações insanos e doidos de paixão. Nunca ligas ao que digo e sussurras-me ao ouvido palavras que sabem bem ouvir mas que preciso expelir.
Mais uma manhã o céu tocou os nossos pés e amanhã, não queiras saber o porquê, não saberei de ti. Outro dia talvez, se o dia na Colina estiver com uma manhã de apetecer.

sábado, 7 de novembro de 2009

Amor "proibibo"

* Amor… proibido
Segredo escondido
Noite de lua cheia
Tu és a minha bela Dulcineia
Eu sou, o teu cavaleiro errante
Desejando ser o teu único amante

AMOR… verdadeiro
Promessa de escuteiro!

Amor… ardente
Paixão iminente
Lava de vulcão
Que brota do meu coração
Tu és chuva de prata
Eu, o teu idólatra
Por ti me sacrificarei
Por ti eu, a vida darei

AMOR… distante
Pensamento constante!

Amor … embriagado
Cálice de sangue enfeitiçado
Canta-se o Hino dos Amantes
Ouvem-se murmúrios alucinantes
És o puro éter da rosa
Tu és a minha bela mariposa
Eu serei flor do teu jardim
Serei orquídea disfarçada de jasmim
Serei rajada de vento aquecido
Serei raio de sol no teu olhar reflectido

AMOR… silencioso
Segredo valioso!

AMOR… latente
Veneno de serpente
Maça silvestre proibida
Tu és a minha Eva apetecida
Quero teus virgens lábios provar
E teu desnudo e belo corpo amar
Quero o teu pecado conhecer
E nele, estes meus loucos desejos satisfazer

AMOR… impossível
Louco desejo irreversível


* Dedicado a uma bela e romântica musa que habita noite e dia este meu louco coração.


A.Soares (apollo_onze)

Anatomia da Improvisação

Escuta amor
Nada me assusta, nem minhas asas
Que produzem os sons que brotam do silêncio
Este silêncio que ecoa no espaço
onde viajamos parados no limiar invisível do tempo.
Escuta amor
as vozes deste silêncio que criamos
quando viajamos para longe e dentro de nós.
Se vens inaugurando o antes e o depois
quero reter no instante desta curva espaço tempo
o que nos traz e nos faz
uno com o Cósmico e Universal.


Falarias prá mim dos vazios que tua alma oculta,
Eu percorreria o espaço na curva desalinhada do tempo
declarando o sutil
que estes espaços em branco mostram.




Sente este vento do futuro a soprar na consciência.
Improvisa prá mim,
em mim,



a anatomia do que ainda não tem nome.

(Cleo)

Um fim de semana mágico para vocês.

Beijos!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Como nasce um paradigma


Faço minha reflexão de hoje baseada neste interessante texto que me foi enviado por e mail:

COMO NASCE UM PARADIGMA

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos em uma jaula em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.

Então, os cientistas substituiram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi procurar subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais procurava subir a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..." (autor desconhecido)

É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito" (Albert Einstein)

Nossa vida é aprendizado contínuo. Desde tenra idade extraimos do exterior a nós elementos que irão compor nossa visão de mundo. As primeiras lições - parentais - adquirímo-las no seio da família e, aos poucos, somamos àquelas as da escola, dos amigos, dos colegas de trabalho, enfim, incorporamos pedaços de realidade que passam pelo crivo subjetivo de nossas avaliações e nos ajudam a compor nossos paradigmas.

O que é um paradigma? Segundo a Wikipedia, "Paradigma (do grego Parádeigma), literalmente modelo, é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas".

O termo Paradigma é mais conhecido em Física. Na escola aprendemos que o paradigma newtoniano foi quebrado por Einstein. E surge a Física Quântica! Com horizontes bem maiores, mais largos, mais respostas e outras dúvidas!...

É isso mesmo! A Ciência caminha através das dúvidas, dos questionamentos, do teste das leis, da introdução de novas variáveis. Uma teoria se valida pelas refutações a que se submete e, quando há uma hipótese que a contrarie, vai-se por água abaixo um edifício sólido... É o momento de se repensar, de estudar sob outro ângulo, de construir um novo corpo teórico!

Da Física transponho meu pensamento: porque não aplicarmos em nossa vida diária o questionamento sadio de nossos paradigmas? Porque nos apegamos todos ao estreitamento das posições rígidas? Porque repetimos mecanicamente tantos comportamentos sem que nem ao menos procuremos entender suas validade, origem, seus objetivos?

Um paradigma é necessário na solidez de nossos alicerces. Todavia, é preciso - tal qual um técnico - saber detectar quando há rachaduras, problemas na estrutura destes e, se o caso, acelerarmos a demolição de certas construções aparentemente sólidas, agirmos no sentido de uma desconstrução de alguns de nossos modelos.

Apegâmo-nos ao conforto do "isso já foi dito", chamâmo-lo de experiência. Nosso dolente comodismo nos impele ao não questionamento do porquê de tantas de nossas atitudes habituais... Às vezes nos ancoramos fechados a defender o que chamamos de tradição: "isto é assim desde tempos imemoriais... meus avós já faziam assim...todo mundo faz assim... porque devo questionar?" Ou: "quem sou eu para questioná-los?" Digo agora: Podem estar errados! Porque não? O mundo medieval tinha certeza que o Sol girava em torno da Terra, pois este pensamento era conforme ao paradigma dominante ditado pela religião...

Vou mais além: a cada vez que defendemos ferrenhamente nossas posições sem que as tenhamos submetido ao confronto com o novo, com o racional que detecta irracionalidades e incongruências, sem que ouçamos imparciais as verdades do outro que nos parecem falsas, contribuimos para o perpetuar da intolerância, do preconceito, dos erros e injustiças, de mentiras muitas vezes. A cada vez que repetimos padrões de conduta sem que saibamos seus porquês, sem que entendamos as suas origens engrossamos as fileiras de um pensamento conservador, acéfalo e continuista...

É preciso revolver de tempos em tempos as águas de nossas certezas pois que se tornam paradas, limosas, traiçoeiras... Tais águas se tornam insalobras caso não as oxigenemos com novas ideias, caso criemos barragens psicológicas que impeçam seu fluxo livre... Afinal, neste grande rio que é o saber, nossas convicções correm lentas ao destino do Grande Oceano! É urgente que saibamos apreciar cada obstáculo que nos impele a ser água turbulenta!

Há momentos na trajetória de um rio em que suas águas são revoltas, a navegação é difícil - se não impossível; contudo, são nestas passagens por obstáculos que ele, com enfurecido ímpeto, escoa mais depressa para objetivos outros. E move pedras, e arranca arbustos e hiperoxigena suas águas. Já não será o mesmo depois da corredeira, planícies há a fertilizar...

Aprendamos com os paradigmas da Ciência - que sempre estão a ser testados, com as lições dos rios; aprendamos a refutar nossos próprios argumentos, a nos tornar mais refratários às verdades dos outros, a questionar mais nossas certezas... Não posso assegurar que chegaremos perto de uma verdade absoluta, pois que esta não existe; todavia, distanciarêmo-nos, com certeza, da intransigência e, contribuiremos para a formação de paradigmas ampliados de compreensão do que nos cerca e, acima de tudo, de nós mesmos... Pensemos nisso.

Imagem retirada de : http://www.google.com/imgres?imgurl=http://www.sdr.com.br/professores/franciane_ulaf/dica146_paradigma.jpg&imgrefurl=http://www.sdr.com.br/professores/franciane_ulaf/paradigmas.htm&h=187&w=350&sz=17&tbnid=9CicwzB0UkgL1M:&tbnh=64&tbnw=120&prev=/images%3Fq%3Dimagem%2Bde%2Bparadigma&usg=__RizfSJQoje32avuGANISGHDrQfM=&ei=lbrxSsq1B5XS8Ab7saCICQ&sa=X&oi=image_result&resnum=2&ct=image&ved=0CAkQ9QEwAQ

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sinto-Te em Mim e Não Te sei Chamar



escrevo palavras soltas numa folha branca, palavras que por si só não se completam.

e o que vês quando me olhas?

pergunto-me(te)

não não digas nada.

não importa o que tu vês

importa o que eu sinto quando te vejo olhar para mim.

nomes?

não...

se os sentimentos fossem para ter nomes

não se sentiam com toda a certeza diziam-se...

como se chama um arrepio na pele? é o quê?

não sei, sinto-o apenas.

não estraguem os sentimentos ao chamá-los

sintam só. tão simples quanto isso.

sem nome são livres.

sem nome são intensos.

sem nome têm a pureza original de quem não mente.

entendem-me?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

São Francisco: Capítulo V

São Francisco (portalcot.com)



Certo dia em que o homem de Deus viajava pela Apúlia, encontrou no caminho uma grande bolsa cheia de moedas. Vendo-a, seu companheiro quis apanhá-la para gastar com os pobres, mas ele não permitiu de forma alguma, dizendo: “Filho, não é permitido pegar os bens alheios”. Mas como ele insistiu muito, Francisco, depois de breve oração mandou recolher a bolsa, que não continha dinheiro e sim uma cobra. Ao vê-la, o frade teve medo, mas, como não queria obedecer e executar a ordem que recebera, pegou a bolsa com as mãos e dela saiu uma grande serpente. E o santo disse: “O dinheiro para os escravos de Deus, não é outra coisa que o diabo, a serpente venenosa”.

Um frade que sofria de forte tentação pensou que, se tivesse consigo algum papel escrito pelo santo, a tentação cessaria imediatamente, mas hesitava em pedir, quando o homem de Deus o chamou: “Meu filho, traga-me papel e tinta , pois quero escrever alguma coisa em louvor a Deus”, E depois de ter escrito, disse:” Tome este papel e guarde-o cuidadosamente até o dia da sua morte”. Imediatamente toda a tentação afastou-se dele.

Quando o santo estava doente, o mesmo frade pôs-se a pensar: “ Aqui está o pai, prestes a morrer, e seria um grande consolo para mim se depois da sua morte eu tivesse a sua túnica”. Pouco depois São Francisco chamou-o: “ Dou esta túnica para você e depois de minha morte ela será sua de pleno direito”.

Ele fora hospedado em Alexandria, na Lombardia, na casa de um homem honesto que lhe pediu para observar o Evangelho e comer tudo que fosse servido. Quando por devoção ele assentiu, o anfitrião apressou-se em preparar-lhe um capão de sete anos para a refeição. Enquanto estavam à mesa, um infiel pediu esmola pelo amor de Deus. Logo que ele ouviu o bendito nome de Deus, mandou entregar ao mendigo um pedaço do leitão. O miserável guardou-o e no dia seguinte, enquanto o santo pregava, mostrava-o dizendo: “ Eis que tipo de carne come esse frade que vocês honram como santo; foi ele que me deu isso ontem à noite”. Mas a todos a perna do leitão pareceu peixe. O mendigo foi acusado pelo povo de louco, compreendeu o que ocorria, enrubesceu, pediu perdão, e quando o prevaricador foi embora a carne voltou a ser o que era.

Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O último discurso


Em 1939, a Alemanha de Hitler sonhava a utopia da superioridade ariana e da expansão tentacular a qualquer preço - um deles, a extinção do povo judeu. Em 15 de outubro de 1940, Sir Charles Spencer Chaplin Jr (Londres, 16 de abril de 1889/25 de dezembro de 1977, autor, diretor, roteirista e músico) lançou o filme O Grande Ditador, uma imortal, célebre obra de crítica aos ideais fascistas e nazistas, ao totalitarismo correntes à época em grande parte da Europa.


Este foi o primeiro filme sonoro de Chaplin, inaugurando um canal de expressão mais forte no roteiro de um discurso. Chaplin magistralmente interpretou dois personagens: um ditador e um barbeiro judeu, fisicamente idênticos. Há várias cenas inesquecíveis neste filme. Algumas silenciosas (como na sequência em que o ditador brinca com um globo terrestre) mas, nas cenas onde há som é poderosa a força da mensagem falada a atingir - ferina e crítica - o contexto político da época. O Último Discurso, cena que coroa todo este grande filme impressiona por sua atualidade: não há como ficar impassível frente àquelas palavras...Ao discurso totalitário de um sobrepõe-se o discurso do outro pregando a fraternidade universal...

Se àquela época vivia-se o terror da Segunda Guerra Mundial, ainda hoje o homem convive com a insanidade de guerras esparsas que parecem não ter fim e a angústia é a mesma. Precisamos rever, reler os grandes discursos - todos, sejam dos grandes ditadores, dos grandes pensadores, dos sábios, dos humildes, dos ignorantes, das crianças, da Natureza. Precisamos erguer os olhos como Hannah (referência à filósofa judia Hannah Arendt, 1906-1975 e, talvez à própria mãe de Chaplin) e acreditar que sairemos todos "da treva para a luz"...

Talvez o primeiro passo para isso seja a capacidade de extrair de cada discurso, de cada noticiário de jornal, de cada incidente doméstico a pergunta e a resposta que eles carregam intrinsecamente. Há sempre algo que podemos aprender, apreender, desde que nos propomos a arguir. Não podemos perder nossa capacidade de nos entristecer com o sofrimento alheio, não podemos assistir anestesiados aos noticiários e crê-los distantes.

Chaplin não se deixou embrutecer, nem se calou perante os fatos de sua época. Seu filme foi inicialmente mal recebido pela crítica e desencadeou a sua saída dos EUA.Temos muito a aprender com Chaplin e seus personagens (com o Charlot, ou em alguns países, Carlitos, com o ditador e com o barbeiro judeu). Seu canal de expressão foi o cinema...e o nosso, qual é?

Transcrevo abaixo, na íntegra, o texto de O último Discurso e, em video a cena antológica .

O ÚLTIMO DISCURSO

"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá”.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unâmo-nos!

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"

Ficha Técnica:
Origem: E.U.A. - 1940
Duração: 123m (pb)
Autoria: Charlie Chaplin
Produção: Charlie Chaplin
Realização: Charlie Chaplin
Fotografia: Karl Strüss e Roland Totheroh
Música: Meredith Wilson
Com: Charlie Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oakie, Billy Gilbert, Henry Daniell, Reginald Gardner, Grace Hayle, Maurice Moscovich, Emma Dunn.