quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Só e apenas a brincar"


Esta noite… Vale tudo!

Tudo… menos ser infeliz

Vamos todos, as tristezas ignorar

Mesmo que tenhamos dividas para pagar

Mesmo que não haja peru para o jantar

Ou Chanpagne francês para a garganta refrescar

E mesmo que faça um frio de rachar

Ou um calor daqueles onde só nu, o se consegue suportar

Vamos todos com muita euforia esta noite festejar

Embora a maioria de nós cada vez mais pobres estejamos a ficar

Mas a riqueza da felicidade essa… esta noite podemos alcançar

Por isso para quê esta noite a tristeza convidar?

Se podemos muito bem, sem a companhia dela passar

Principalmente numa noite onde só a felicidade deveria reinar

Como tal… Vamos lá então todos “mal nos comportar”

Vamos todos à maioria dos políticos pimenta na língua deitar

Para ver se eles para o ano deixam tanto de aldrabar

Vamos todos, aos principais senhores do mundo as orelhas deles puxar

Até eles se convencer em com a maioria da poluição (entre outras maléficas coisas) no mundo acabar

Vamos também caretas muito feias aos novos preços mostrar

Para ver se eles assustam-se e não queiram, no novo ano entrar

Resumindo… vamos todos esta noite, a nossa até agora, contida euforia libertar

Vamos beber, sorrir, cantar, dançar perdoar, abraçar, beijar e amar

Até os primeiros raios de luz do novo ano de 2010 se avistar

E aí… o melhor será todos nós, um demorado banho de água fria tomar

Para as nossas cabeças e corpos, começarem já a se adaptar

Para os baldes de agua fria, que os próximos 365dias terão para nos dar!

Mas até lá…

O melhor mesmo será, todo mundo, esta noite mal se comportar

Mas cuidado!

Não “estraguem” muito pois amanhã, podem o prejuízo causado não o conseguir saldar…

Tanto mais que eu, com o Ano Novo, estava só e apenas a brincar!


Bom Ano e 2010!

Para todos meus familiares e amigos principalmente a todos aqueles que ao longo do Ano de 2009 compartilharam comigo a sua tão generosa e muito sincera amizade.

Bem-haja a todos vós!


(Imagem by net Google)

A.Soares (apollo_onze)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Existe um Lugar...


Existe um lugar, onde a Liberdade se ergue para lá do pensamento… onde a liberdade escolheu, Viver sem condicionamento… Solto como o vento, não mais se apegou á mente…

Virou costas a uma vida, vivida em vão, para reconhecer que ser Livre, é sim, seguir o Coração…

Existe um lugar, onde só a coragem pode lá chegar… Escutar o Coração, conduz-te a esse local… Um sítio de Paz e sabedoria, que aos olhos do pensamento, jamais existiria…

Sê louco pela Vida, e verás esse lugar, como sendo o Aqui e Agora, basta contemplares… Não! Diz o pensamento, proveniente de uma mente banal… Esquecendo-se assim que a Vida, é a Magia onde tudo é Original…

Existe um lugar, onde tudo na Vida, acontece pela primeira vez… Uma magia, onde a criação se manifesta em tudo e em todos, jubilando por saber quem “É”…

Uma consciência de quem acordou para a Vida e descobriu a simplicidade do momento, um olhar, uma Observação por viver sem condicionamento…

Vivemos e Observamos um Mundo...


Vivemos e observamos um Mundo, o qual na sua superfície não nos identificamos. Guerras, pobreza, doenças, escassez, injustiças, crises, terrorismo, receios, desilusões, sofrimento, etc. São faces da existência que não reconhecemos como fazendo parte integrante, do que consideramos ser Belo, e com sentido. Somos na maioria das vezes, conduzidos a comentar as desgraças de um Mundo que nos serve de palco para a nossa existência.
Um Mundo que na sua essência se revela Mágico deslumbrante e Maravilhoso, onde a Criação a todo o Momento, se transforma em Luz e sombra, uma transformação inexplicável por palavras, apenas contemplada por Presença.
É então que podemos questionar porquê esta realidade, uma realidade que não faz sentido ao Coração, porquê esta divergência entre o palco onde tudo se encena e a peça em si?

A resposta a esta pergunta só se fará sentir na humildade e honestidade de quem reconheceu que “não sabe”, quem finalmente admitiu a si mesmo que “não sabe” o porquê do mesmo.
É no “não saber” que a abertura ao Novo se concretiza, o “não saber” é o primeiro reconhecimento que proporciona a curiosidade em Saber.
A Beleza a Magia o Encantamento que a Natureza e o Mundo nos apresenta, têm a sua origem no seu interior, a sua raiz está no seu íntimo. Assim o é, também a com sua sabedoria, ela está no seu interior pois é lá que está, a sua honestidade, a sua Consciência, não existe maior sabedoria que a humildade de reconhecer a sua Honestidade. A honestidade é então a ferramenta pelo qual adquirimos sabedoria, pelo qual o processo se manifesta.

Vivemos e observamos um Mundo, onde a Observação, partiu de um Homem que se julga separado, eu aqui e o mundo ali. Questione-se e volte-se a questionar, sem questão não existe resposta, sem questão não existe abertura, sem questão não existe entendimento. Verá que viver uma vida sem questões, num mundo que não faz sentido, é como viver um sonho onde se julga perdido. Ramana Maharshi e muitos outros incentivaram a esse questionamento, porque o auto questionamento permite a reflexão, a abertura a experiência, e validação. Uma validação que lhe é legitimo querer validar, contudo é necessário a vontade e a persistência de se auto questionar, para dar lugar ao espaço onde reside a sabedoria, e possa assim se manifestar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

Como Armar Um Presépio

Nascimento de Jesus, 1304-1306; Giotto di Bondonne, Florença



pegar uma paisagem qualquer

cortar todas as árvores e transformá-las em papel de imprensa

enviar para o matadouro mais próximo todos os animais

retirar da terra o petróleo ferro urânio que possa
eventualmente conter e fabricar carros tanques aviões
mísseis nucleares cujos morticínios hão de ser noticiados
com destaque


despejar os detritos industriais nos rios e lagos

exterminar com herbicida ou napalm os últimos traços de vegetação

evacuar a população sobrevivente para as fábricas e
cortiços da cidade

depois de reduzir assim a paisagem à medida do homem

erguer um estábulo com restos de madeira cobri-lo de
chapas enferrujadas e esperar

esperar que algum boi doente algum burro fugido algum
carneiro sem dono venha nele esconder-se


esperar que venha ajoelhar-se diante dele algum velho
pastor que ainda acredite no milagre


esperar


quem sabe um dia não nasce ali uma criança e a vida recomeça?



José Paulo Paes


*Este poema reflete a dessacralização do homem , do meio ambiente, no seu cotidiano e da perda das significações pela humanidade na manipulação e no controle da natureza. E na esperança renovada pelo espírito de Natal, deixo um apelo para a conscientização de todos através desta reflexão poemática. Desejo a todos os leitores e colaboradores do REFLEXÕES DE NÓS, Boas Festas e que o verdadeiro espírito do Natal habite em cada lar e que a sacralidade da vida em cada ser humano e planetária não seja ameaçada pela irracionalidade, abuso e o descaso. (Sam)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Nada Sou!

Nada sou!
Eu nunca existi
Não sou gente, apenas um mito
Sou o um monstro quimérico
Sou a alma da Atlântida perdida
Eu penso...
Mas eu não existo
Eu sonho...
Mas eu em nada acredito
Nada vejo apenas sinto
Sinto a dor do meu encarcerado pensamento
Sinto a fúria do meu escuro silêncio
Sinto a triste mágoa por nada ser
Por tudo aquilo que desejo
Mas que eu, nunca poderei ter
Nada sou!
Eu nunca existi
Estas ocas palavras não são minhas
Foram pensadas numa quinta dimensão
E transcritas pela minha imaginação
Nesta folha virtual de vidro luminoso
Só é pena que ela, não tenha alma nem coração.


A.Soares (apollo_onze)

O Sonho de Navegar...


Em mares navegou, á procura de um porto de abrigo.
Em portos ficou, receoso que o mar não fosse o objectivo.
Foi quando pausou, julgando saber o que fazer.
Abdicou do seu sonho, um sonho de Viver
Não mais olhou, para a Vida com sentido
Escolhera assim a rotina, de quem se julga inserido
Numa sociedade dispersa, perdeu a coragem de ver
A Vida na sua simplicidade, a Magia de apenas SER
De seguir o seu próprio caminho
Que foi a vontade de se conhecer
Hoje sofre pelo amor que teve, na iniciativa por viver
Pois reconhece que o sonho de navegar
Foi sempre o que quis fazer.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sobre natais e fins de ano...

Hoje baseio minha reflexão em uma poesia de meu amigo Alexandre Simas e em um video produzido por meu amigo António Bordalo. Que video belíssimo... confesso que me emocionei... Sua leitura da realidade de milhões, isolados e relegados ao abandono, sua mensagem final de esperança é de uma profunda sensibilidade... Já a poesia de Alexandre é um olhar crítico sarcástico, ferina/irônica fala poética que retira a casca de uma ferida mal cicatrizada, nos remetendo às incongruências de um discurso que não nos diz respeito: há um Natal de hábitos exóticos, uma "tradição" importada e imposta de neves e chaminés, de absurdos casacos e meias de lã... num país tropical... Ambos, poesia e video se complementam...

OUTRO NATAL

Sonhamos com neve sobre o telhado
Em pleno verão tropical
Papai Noel escorregando por chaminés
Em pleno verão tropical
Pinheiros nevados aterrados em presentes
Em pleno verão tropical...
... No país do eterno amanhã

Mesa farta de tâmaras, morangos, avelãs
Maçãs, figos, pêssegos, cerejas, nozes...
No país do caju, da manga, do abacaxi
Da goiaba, da banana, do açaí, do cupuaçú
Da graviola, da pupunha, do tucumã...

Lá fora uma redonda e cheia lua enfeita
Um céu de mil estrelas que pululam tal qual
Balé de vaga-lumes sob um azul quase negro
Embalando o hipnótico sentimento de
Solidariedade em cuja parede pendura-se
O quadro da hipocrisia, pintado com as cores
De nossa cega estupidez, quase irmã

Orgulhosos, distribuímos nossas migalhas
Aos pobres desafortunados...
Tão ou mais ricos dos nossos mesmos sonhos...
... Até acordarem pela manhã

Com a chegada dos soturnos dias de Janeiro
E junto com eles todas as lágrimas da terra
Recomeçando o drama da nova espera
Das caridades do próximo natal
Único dia no ano que a maioria das almas...
... Enxerga sua irmã (Alexandre Simas Costa )






Esta é a época da ostentação de fartura e brilho na pequenez e escuridão de muitos lares (?)... da ilusão de que uma reunião anual transforma em família o que não passa de uma obrigação social... Esta é uma época em que as disparidades sociais mais se evidenciam: convivem lado a lado nos shopping centers aqueles que se alimentarão em excesso e aqueles que se sentiriam gratos pelas sobras dos banquetes, aqueles que se endividam para servir banquetes e aqueles que nada têm para por à mesa...

Esta é a época em que se tenta fazer as pazes com a consciência na distribuição de esmolas do que já não nos serve mais... e a mão esquerda sabe o que fez a direita...

Esta é a época dos apelos à fraternidade, do início dos endividamentos... Nesta época incomoda-nos a mensagem escancarada de simplicidade que o nascimento de Jesus evoca; nesta época dâmo-nos conta de que somos todos de uma única espécie e enxergamos no outro um irmão... mas esquecemos depressa demais e após a pausa do cessar fogo no primeiro dia do ano, lá vamos de novo - a empunhar nossas armas para garantir e relembrar nossas diferenças... Com os bolsos menos cheios, os corpos mais gordos das intermináveis sessões de gula, os cartões de crédito a nos darem as boas vindas ao novo ano...

No dia 26 de dezembro já estará vazio novamente o prato daquele que tão caridosamente enchemos com o que sobrou de nossa ceia; já nos desviaremos novamente do olhar marginal da pobreza; o brilho das luzes faiscantes já terá sido prejudicado pela queima de muitas lampadazinhas; os brinquedos já foram comparados, já foram mostrados e já terão perdido seu encanto de novidade...

Esta é a época dos balanços externos e internos; se aqueles quantificam os lucros e deficits relacionados ao nosso trabalho, nossas atividades comerciais, estes apontam os ganhos e perdas reais qualitativos de nossos relacionamentos, nossos investimentos na conta bancária de nós mesmos enquanto seres humanos. Nesta época, comumente olhamos para os 365 dias que vivemos e, às vezes, dâmo-nos conta de que simplesmente esquecêmo-nos todos de vivê-los por completo... Engolimos apressados os dias, dia após dia culpando a falta de tempo para colocar em prática as nossas promessas de fim de ano...

Porque é comum nesta época um certo sentimento de tristeza, uma nostalgia de tempos de infância? Coloridos, lá estão em nossa memória os tons da afetividade sadia de uma família traduzidos em risos, cheiros de assados no forno, impaciência de crianças na expectativa de sonhos, luzinhas, sinos e cânticos... Talvez, em parte, porque crescemos todos e a magia se perdeu em alguma loja onde vimos nosso presente ser comprado... Talvez isso começou quando passamos a rir daqueles que acreditavam em Papai Noel ou quando descobrimos que não havia Natal em todas as casas... ou quando pensamos que a mensagem natalina é muito bonita, muito profunda, mas impraticável no dia-a-dia de nossa correria: descobrimos que há mais lobos e ovelhas do que homens no mundo! Talvez porque a desigualdade e as injustiças sociais sejam um problema que deliberamos transferir para as mãos do Governo, para as instituições, pois as nossas próprias mãos já estiveram muito ocupadas 365 dias no ano... Talvez porque preferimos lavar as mãos... talvez porque um dia perdemos nossa inocência e, ao invés de brincarmos juntos, passamos a temer que os nossos brinquedos pudessem ser roubados...

Esta é uma época que deveria ser melhor aproveitada. Deveríamos refletir sobre o porquê de sentirmos todos em meio à alegria dos fogos um certo vazio interior que insiste em nublar o céu de nossos propósitos e promessas. Deveríamos pensar mais no porquê de tanta mutilação a nós mesmos e ao outro na busca desenfreada de um status que prioriza o ter à revelia do ser...

Que neste Natal possamos doar bem mais que nossas sobras: doemos de nós mesmos! De nossa amizade, nossos ouvidos, nosso olhar! Que nossa boca sirva à denúncia, que nossos atos testemunhem nossa responsabilidade social, que nossas mãos distribuam mais que alimento, que afaguem e se prestem à solidariedade comprometida! Que nossos saberes sejam usados na construção de pontes a unir homens e não interesses econômicos! Que nossas armas sejam a Razão, a Ciência, a Literatura, a Música, as religiões postas a serviço do homem e não a seu desfavor! Que sejam instrumentos de união e não de fratricídios, de exclusões sociais, de disseminação de falácias, de ideologias alienizantes, de lógicas aplicadas à segregação, à justificativa da dominação de muitos por alguns...

Que nossas famílias possam se sentir unidas e não se limitem suas reuniões ao sentimento de uma obrigação social; que o presente mais valioso que possamos dar aos nossos filhos (e que eles esperem receber) esteja desvinculado de um valor monetário; que o alimento que oferecermos sacie o outro de uma fome moral; que não se sinta humilhado aquele que recebe, nem se envaideça o que doou; que cumpramos os nossos prometidos se promoverem nosso aprimoramento pessoal; que vivamos realmente os dias do novo ano; que paremos de ser hipócritas, que deixemos nossa inércia, que enxerguemos o que se passa a nossa volta e paremos de tropeçar nos obstáculos criados por nossa própria pequenez!

Esta época traz-nos mais uma oportunidade de resgate, de construção e reconstrução de valores. A Mensagem está a cada dia mais se enfraquecendo, pois já não lhe damos valor... Aproveitemos todos esta época que nos sugere que o mal estar que sentimos deve-se à nossa falta de comprometimento com o essencial... Mais que aquele do qual Exupéry disse ser "invisível aos olhos", o essencial é por vezes tangível: esbarramos nele a cada dobra da esquina, a cada vez que ligamos a TV e ouvimos os noticiários, a cada vez que sabemos que o aroma de nossa mesa farta chega pelo vento - apesar de nossos muros - ao casebre de alguém que tem fome..., a cada vez que sabemos do injusto e cruzamos nossos braços.

De nada servem os apelos sentimentais se os esquecemos tão céleres após a ressaca dos nossos excessos no dia seguinte...Soam tão longínquos como a neve, as frutas exóticas e caras, as meias de lã e as chaminés por onde entrará um Papai Noel que não se suja... Para que tenhamos realmente um "Feliz Natal" é urgente não esquecer que somos responsáveis pelo Natal feliz do nosso "inimigo"; para que exista realmente um "feliz Natal" é urgente saber que a Mensagem também se aplica a ele e, só se efetiva na prática, quando já não há mais "inimigos"... Para que existam felizes natais é necessário nos desvincularmos da ideia assistencialista que promove campanhas sazonais e imediatistas e se dê incentivo às reais condições de melhoria de vida (emprego digno, educação e saúde de qualidade, por exemplo) da população.

É necessário entender que a fome aplacada de hoje voltará amanhã, e também, que no final do ano que vem poderá voltar aquele sentimento de vazio interior ao qual me referí... Porque mascaramos todos as reais necessidades, já estarão nossas crianças a desejar outros brinquedos (talvez nem esperem este dezembro terminar...), continuarão nas ruas os marginalizados sociais, estaremos nos preparando todos para novos endividamentos com gastos supérfluos, proporemos novamente mudanças interiores e nos encheremos de ânimo para cumprir velhas promessas... Até quando? Pensemos todos nisso. Deixo a todos um sincero e fraternal abraço de Natal... de um real e feliz Natal para todos os homens. E que venha 2010! E que nos encontre a todos despertos!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quando o "Não Saber" se torna Saber


Quando o “não saber” se torna Saber

São inúmeras as vezes em que o Homem, não sabe como vai ser, ou como fazer no futuro. O não saber é realmente uma característica essencial da Vida, contudo o ego, o Homem julga e pensa a todo o momento que sabe. Juntamente a este saber, está a necessidade de controlo sobre o futuro.

Porém a Vida demonstra-nos que “não saber” é um estado natural da própria Vida, é algo inato e pertencente á própria Vida. O “não saber” é algo óbvio mas muitas das vezes ignorado, por parte do ego. O Homem tenda sempre saber no momento Presente, o que vai suceder no futuro, por isso mesmo ele planeia, e organiza quais os passos a dar.

O “não saber” é Vital para a Vida, isto porque é na surpresa, na espontaneidade, originalidade que a Vida se desenrola, é nessa incógnita que surge o Novo e a Magia de estar Vivo.

Quando afirmamos que sabemos, o novo não é constatado, e a sua revelação ocultada. Tudo isto em prol de um pensamento que teima em afirmar que sabe. Mas a Vida têm vindo a demonstrar que nada sabemos, e que a insistência no simples “julgar saber”, nos conduz a um ciclo vertiginoso e stressante sem saída.
Prova disso é a suposta vida que julgamos ser vida, e que se está a manifestar em todo o mundo, a teimosia em afirmar que sabemos está a conduzir-nos a um ciclo cada vez mais evidente. Um ciclo onde o tempo aprisionou a mente ao objectivo que foi julgar saber algo fora do momento, que intitulamos como futuro.

O que intitulamos como tempo é então esse “julgar saber”, o Homem julga que sabe, pensa que sabe, como vai ser o amanhã, como controlar a sua vida, as suas finanças, os seus relacionamentos, etc. Todo este “julgar saber” está a entrar em colapso, pois a “suposta sabedoria” aniquila a Vida, aniquila a originalidade e a vinda do novo, isto porque quando alegamos que sabemos, logo o novo é esquecido para dar lugar ao velho, ao repetitivo. Contudo a Vida jamais se pode aniquilar, e a persistência nesta ilusão conduz o Homem ao “seu” despertar.

Muitos estão lentamente a reconhecer este “não saber”, estão finalmente a admitir a sua incapacidade para com o controlo de si mesmo. Este controlar de si mesmo, está a desmoronar-se, e com isso a cedência à própria vida. O baixar as armas, para aceitar que “não sabe”, está finalmente após muita dor e sofrimento a tornar-se uma realidade, lentamente a coragem substitui esse saber, para dar lugar á fé, ao Coração, e á Vida. O que julgávamos saber deixa assim de fazer sentido, para dar lugar ao momento. Este reconhecimento liberta assim o Homem das amarras do tempo, liberta-o do futuro da ilusão que é viver em controlo de si mesmo.

O verdadeiro Saber é então revelado

A revelação surge com a abertura e a cedência dos velhos padrões de comportamento, a maior sabedoria é então revelada como sendo essa mesma “SABER que não sabe”, Saber que o que em tempos julgava saber, era apenas isso um julgamento um pensamento, e nada mais.
O “Não Saber” torna-se assim a LUZ que o guia, neste estado a Vida se encontra Aberta á Magia, vivendo o momento de forma plena, com fé e coragem o Homem não ignora a Vida, mas sim, abraça-a admitindo que não sabe, ele permite que a Vida flua e lhe demonstre como Viver.

A Consciência está assim Livre para SER o momento, que sempre foi, É e será.

PAZ

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre o Povo


Há uma poesia belíssima de Cora Coralina intitulada ORAÇÃO DO MILHO. Ao lê-la preparei esta reflexão.

ORAÇÃO DO MILHO

Senhor, nada valho!
Sou a planta humilde dos quintais e das lavouras pobres.
Meu grão perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e hastes e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta de acaso solitária, dou espigas e devolvo, em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura, não me pertence a hierarquia tradicional do trigo e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou o pão da vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra onde não vinga o trigo nobre; sou de origem obscura e de ascendência pobre, alimento dos rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques coroados de rosas e espigas; quando os hebreus iam em longas caravanas buscar na terra do Egito o trigo dos faraós; quando Rute respigava cantando nas searas de Booz e Jesus abençoava os trigais maduros, eu era apenas o Bró, nativo das tabas ameríndias.
Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário; sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga, o que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis,
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado,
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece,
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos,
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós, Senhor, que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho!


Lendo esta belíssima criação de nossa Cora Coralina, não conseguí evitar uma associação entre o milho e o povo. Acostumâmo-nos a singularizar pessoas e não povos. A História é feita de nomes: alguns odiados, outros memoráveis, nomes estes oriundos do anonimato, geridos na multidão de sem nomes...

Ao povo cabe o múnus de ora forjar heróis, ora mártires... Dele saem as forças armadas ou os voluntários da ajuda humanitária ao modo de um supra povo...

Ah, esse povo que elege seus líderes e se verga sob o peso do esquecimento daquele que alçou ao poder... Esse povo cheio de fé e boa-fé que coloca sua vida - orações vivas - no altar dos dias...de trabalho...todos os dias ao levar à mesa, por vezes, mirrado, seco pão temperado de suor que alimentará um novo líder... Povo que vota como quem diz "eu confio em você, você saiu de mim"... e se queda triste qual mãe a se entristecer com a ingratidão do filho...

Em cada batalha da História, em cada guerra que ainda hoje se trava - povo contra povo -, quantas vidas ceifadas para que a certeza de um povo se imponha em suas verdades ou mentiras , para que um povo se perpetue em seus avanços e recuos... Povo-alimento dos grandes nomes, "fartura generosa e despreocupada" dos grandes feitos...segue o povo no anonimato tecendo a História, imolando-se e tornando-se cinza de corpos sem medalhas ou condecorações, sem constar dos livros de História...

Povo que se insurge, por vezes, em revolta; povo às vezes expulso, refugiado em outros povos, emigrante forçado: é o Estado voltando as costas a quem o criou, à semelhança de pai a expulsar o filho de casa... Povo que é braços, pernas, pés e mãos, corpo que alimenta o cérebro da Nação...

Esse povo "que põe folhas e hastes" em qualquer pedaço de chão retribui com "espigas" e muitos novos, heterogêneos grãos à terra de homens... Povo que canta, dança e rí esquecendo suas tristezas, que tem orgulho de ser povo na alegria de seu folclore, de suas lendas, de seu saber "não científico" e, que se entristece com as armas, com os novos hábitos, com a incompreensão de outros povos, com o jeito do Futuro se impor...

Povo que não quer deixar de ser povo... que entende da sua "humildade e necessidade"...que sabe cantar - qual galos - a alegria de gerar nomes; que alimenta com fartura de risos e amor aquele que com suas palavras e atos alimentará sonhos de povos...

Povo que, por vezes, envereda por caminhos que não escolheria...se pudesse. Povo que se dilui em outros povos e vê triste e impotente a destruição de sua cultura... povo que retribui enriquecendo a cultura que os absorveu...

Ao pensar em "povo", penso em mim. Nada tenho da singularidade que me destacaria do povo. Cabem-me todas as palavras da poetisa e, dou-me conta, agradecida, de que minha "humildade" é essencial e necessária. Sim, sou mesmo a planta comum e forte a lançar meus grãos-mensagens neste chão - ora fértil, ora estéril ... Da hierarquia do "trigo" nem cogito...sou planta hibridizada por beija-flores... fortes-frágeis beija flores...

domingo, 6 de dezembro de 2009

Foi quando acordei...


Certo dia, Sofia uma Mulher jovem passeava no jardim perto da sua casa, o hábito de passear era frequente e tornara-se assim depressa num ritual.
Nesse dia algo estranho e fora de vulgar aconteceu, Sofia interrogou-se sobre a sua própria existência, quem seria ela e qual o propósito da Vida? A questão que colocara a si mesmo pretendia uma resposta honesta, válida e simples. Sem teorias, sem memorias, sem limitações, algo que fosse indiscutível evidente e autentico, algo que fosse válido por experiencia própria, e não por influencia de terceiros.

Durante a sua caminhada, contemplando o Jardim e todo o espaço envolvente, Sofia deparou-se com algo óbvio, mas que de certa forma captou a sua atenção. A Vida á sua volta estava constantemente acontecendo, tudo estava sucedendo independentemente da sua Presença, apercebera-se naquele instante que tudo se assemelhava a um filme. O pássaro que esvoaçara á sua frente, o autocarro que buzinou fortemente nas traseiras do jardim, o raio de Sol que a ofuscara por momentos, e o riso de uma criança que brincava alegremente com uma bola no jardim.
Ainda durante este momento a atenção também ela se alterou, algo de certa forma claro e natural aconteceu, a atenção sobre o filme contemplava também a sua presença. Agora também o seu corpo fazia parte do filme, a sua personagem estava inserido no filme, e também a sua figura parecia estar constantemente alterando-se, os pensamentos as emoções os sentimentos tudo agora era um filme, que Observava cautelosamente.

Sofia apercebera-se que em si a testemunha da Vida era a sua Consciência, que a Consciência tudo albergava, incluindo o que ela intitulava como sendo ela mesma. Tudo estava, está e estará na sua Consciência, nada absolutamente nada, poderia se manifestar fora dela, toda a sua realidade tinha que necessariamente passar pela sua Consciência. Foi então que Sofia resolveu comprometer-se a simplicidade da sua Consciência, sabia que as respostas às suas perguntas teriam que surgir aí. Juntamente com esta decisão Sofia descobriu ainda a importância da Honestidade. Sabia também agora, que a honestidade seria a ferramenta pelo qual acederia às respostas.

Se “Agora” tudo era um filme do qual Sofia tinha Consciência então porque não Observar filme, estar atento a tudo e a todos incluindo-se a si mesma.
Sofia “sem saber” iniciou o “seu” processo de despertar, a capacidade de Observação foi revelando assim o que viria a SER o despertar de um sonho.

Hoje Sofia sabe quem “É” hoje acordou de um sonho que em “tempos” sonhou, para sonhar o sonho real que é estar acordado para Magia que é SER Vida


PAZ

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

(Sossego Emocional)

Eis que o sossego emocional chegou!
Repouso neste meu tão almejado silêncio branco
Só eu… e a minha tranquila respiração
Só eu… e o meu abstracto olhar
Só eu… e a minha desanuviada audição
Eis que por fim… tudo terminou!
Desisti de em quase tudo e… em quase todos acreditar
De ouvir dizer sim! E pouco tempo depois, alguém isso negar
De pedir ajuda mas para isso, mais tarde com altos juros, ter de pagar.
Convenci-me finalmente…
Que alguns dos meus amigos e familiares
Se renderam ao reino do egoísmo e da conveniência
Passando a serem, súbditos da deplorável incoerência.
Convenci-me finalmente…
Que há mais quem minta, do que fale a verdade
Daí, e talvez, uma boa mentira “valer mais”… que mil verdades.
Ver para crer… é hoje em dia, o lema da maioria da humanidade
E mesmo assim, cada vez mais, proliferam tamanhas falsidades.
Convenci-me finalmente…
Que há mais quem ame por mera e fugaz ilusão
Do quem ame, com extrema e contínua dedicação.
Alguns amam louca e incondicionalmente, no acto do prazer carnal
Mas detestam-se facilmente logo que algo, começa a correr mal.
Convenci-me finalmente…
Que o ritmo da vida é, e será sempre igual
As palavras, os gestos, os passos, os dias, as estações se repetem
As injustiças sociais e o desrespeito pela vida prevalecem
Que o mundo embora pareça tão esplendoroso, é todavia… tão desigual.

Eis que o sossego emocional chegou!
Mas infelizmente…
A minha mente, a este silêncio branco, não se consegue adaptar
A ausência do repetitivo fragor humano faz-me como que, sufocar
Não… não consigo por mais tempo, esta minha utopia perpetuar
É-me de todo impossível neste silêncio branco poder respirar.
Preciso urgentemente de, ao estrépito desassossego regressar
Sim!
È estúpido e incompreensível mas eu, já não consigo passar
Sem este amaldiçoado desassossego que me faz, assim contrariar
Este meu louco desejo de ao sossego, eu hoje, finalmente mergulhar.
Quiçá para isso, tenha primeiro de, a minha alma ter de purgar
Para então, eu poder, no mais puro sossego, eternamente repousar.

E hoje;
O meu tão almejado sossego emocional…
Assim… tão precocemente, para mim terminou!



A-Soares (apollo_onze)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Onde nos conduz a ignorância?


Só existe dois resultados possíveis provenientes da ignorância. O seu reconhecimento, que conduz a um estado de sabedoria e com isso a Consciência sobre o mesmo. Ou a sua indiferença face á ignorância, que reverte a um maior grau de Ignorância, por outras palavras Inconsciência.

É então fácil de constatar que os resultados são distintos, um revela Inconsciência, e o outro Consciência. A Ignorância surge assim como um factor essencial para o florescimento de um, e a decadência do outro.

Quando desconhecemos algo, ou seja “não sabemos algo”. A nossa atitude perante o mesmo pode ser proveniente, de um estado Consciente ou Inconsciente. Quer isto dizer que podemos reconhecer que não sabemos, ou podemos por e simplesmente ignorar o facto que não sabemos.
Por outras palavras é nos possível ignorar a ignorância em nós. O livre arbítrio permite isso mesmo.

O reconhecimento da nossa ignorância, revela sabedoria, pois o Homem constata que não possui conhecimento, referente ao assunto em causa. Este estado de reconhecimento é sinónimo de autenticidade e honestidade para consigo mesmo, que por sua vez o conduz a um estado de Graça, de abertura e receptividade para com a Vida.

Quando alegamos que sabemos algo, que na verdade não sabemos, a chegada do novo não se pode realizar, isto porque todo aquele que alega saber, está preenchido e com isso fechado para a Vida.

A Vida dita, que para sabermos algo, temos de estar abertos e receptivos para a aprendizagem e constatação do mesmo.
O simples acto de andar de bicicleta, teve inicio num certo e determinado período da vida. Hoje aquele que sabe andar, nesse mesmo período esteve aberto e receptivo á experiencia, que foi aprender e experienciar o acto de andar de bicicleta.

A Vida é então, sinónimo de experiencia, o Homem têm de experienciar, para depois validar a sabedoria adquirida pelo mesmo.

São inúmeras as pessoas que actualmente, falam e mencionam um sentido para a Vida. Os mestres, os Gurus, correntes filosóficas e religiões, de uma forma ou de outra, mencionam isso mesmo.
Contudo o cepticismo juntamente com o: “eu sei” ou “eu não quero saber”, permanece na sociedade actual, de forma inalterável. São realmente poucas as pessoas que lentamente demonstram uma curiosidade, e honestidade face ao verdadeiro saber.

A própria palavra “verdadeiro” levanta as suas suspeitas, pois num mundo cheio de contradições, como saber onde está a verdade? o leitor pode muito bem neste preciso momento, questionar, o que significa verdadeiro? Como será possível realmente encontrar o verdadeiro sentido para a Vida? Como saber, que esse sentido, é o verdadeiro?

Todas estas questões são legítimas, e pertencem ao estado do “não saber”, porém podemos validar o saber, no momento em que sabemos. Para sabermos algo, como sendo verdadeiro temos que necessariamente experienciar esse mesmo algo.
Tomemos o seguinte exemplo:

O Leitor sabe que possui um ecrã á sua frente, não pensa, nem julga ter, um ecrã, a sua frente. Isto porque o ecrã que está a sua frente faz parte da experiencia do momento, uma experiencia que lhe é validada, pelas palavras que neste momento está ler.
Você o momento e o ecrã são “UM”, a Consciência e a experiencia do momento é Una, logo é verdadeira para si. Questionar esta verdade é questionar a própria veracidade da questão que o leva a questionar.
Diz-nos a experiencia, que a experiencia é Vida, pois sem ela, o simples acto de estar a ler neste momento, não seria possível.

Quando não sabemos, admitindo, esse nosso “não saber”, e reconhecemos o mesmo, a abertura é inevitável, pois o simples reconhecimento permite-nos esse estado.
Encontrar um sentido para a Vida, encontrar a razão pelo qual estamos cá, saber o que somos como Vida, é legítimo e uma questão fundamental na felicidade plena do SER Humano.

Abrir nos á Vida é reconhecer que a Vida é experiencia e abertura, uma abertura que nos conduz á Magia de estar Vivo neste planeta.
Dizer que sim, dizer que talvez, ou dizer que não, sem o SABER. Revela fecho para com mesma. Dizer eu não sei mas estou disposto a saber, é permitir-se a si mesmo á experiencia.

Não acredite nas palavras, mas sim na experiencia, valide por si mesmo, constate por si mesmo, então sim será sábio, porque sabe.

Compete a si, questionar-se, se sabe, se quer saber, ou se por e simplesmente não lhe interessa, o livre arbítrio é seu. Entre ignorar a ignorância, ou optar por reconhecer a mesma, vai um passo sublime, mas de certa forma gigante para com a sua Honestidade.

Não acredite nas palavras, mas sim na experiencia, valide por si mesmo, constate por si mesmo, então sim será sábio, porque sabe, o verdadeiro estado de graça que é o poder por detrás do “não saber”


PAZ