segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre a sinceridade


A palavra "sinceridade" vem, etimologicamente, do latim sincerus. Há duas explicações para sua origem - que encontrei na Rede.Vejâmo-las.A primeira é que foi inventada pelos romanos. Estes produziam vasos com uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos se conseguia ver objetos que estivessem no interior do vaso, olhando-se por fora. Para esta perfeição da arte antiga os romanos diziam: "Como é lindo, parece até que não tem cera!" "Sine cera" queria dizer "sem cera", uma qualidade de um vaso perfeito, raro, de grande valor que deixava ver através de suas paredes.

Outra explicação da origem: quando os oleiros fabricavam seus vasos, alguns rachavam e apresentavam pequenas frestas pelas quais se perdia o valioso líquido depositado nos vasos. Uma das soluções encontradas foi tapar as frestas com cera...Vasos "sem cera" eram autenticamente íntegros, sem remendos. Vasos "com cera" tinham aparência de autênticos, mas não eram.

Um ponto em comum em ambas as explicações é o caráter de autenticidade, de virtude. Com a evolução dessa palavra, associâmo-la hoje com franqueza, lisura de caráter, ausência de falsidade. Mas o que significa realmente ser sincero? Será mesmo uma virtude ou algo que pode incomodar o outro? À semelhança do vaso, deixar ver os sentimentos que nos vão dentro do coração, nem sempre é bem recebido com olhares de admiração...

Há uma estreita relação entre sinceridade e verdade; porém, não se confundem. Ser sincero implica em auto conhecimento; não basta dizer a verdade, o que se pensa para outra pessoa: é preciso sê-lo e dizê-la, primeiramente, para si mesmo. E arguir-se: estarei com minha conduta contribuindo para um relacionamento autêntico?

Sinceridade pode ser notada no olhar, no gesto espontâneo; não diz mais do que precisa. Já a verdade, por exemplo, realiza mais do que se propõe...A sinceridade caminha ladeada pelo respeito e pela tolerância: ao outro, ao seu próprio tempo e, se necessário, sabe se calar numa eloquência muda .

É possível viver com sinceridade nesses tempos onde impera a hipocrisia, onde se maquiam sentimentos pela fugacidade dos próprios relacionamentos? Onde há uma cultura que endeusa o descartável, uma virtualidade que constrói perfis nas redes de relacionamento? Onde aparentar ser ganha mais pontos que ser? Onde tê-la na Política? Onde esse "homem verdadeiro" que à luz das modernas lanternas tão somente consegue o resultado frustrado de Diógenes a 400 a. C.?

Penso que na sinceridade há uma flecha que pode ferir desmesuradamente; há uma faca de dois gumes: um que retira as cascas de si mesmo, revelando a essência insubornável e, outra que fere o dedo de quem a usa por haver aprofundado o corte nas aparas ( de sí e de outrem)...A verdade que se escancara, por vezes, na sinceridade de um comportamento, pode revelar um lado desconhecido - de nós mesmos ou do outro. A ausência de medida poderá transformar o néctar em enjoativo doce e o sal da gota em insalobra bebida...

Qual o equilíbrio? Se é certo que os excessos são nefastos, penso que sim! devemos ser e cultivar a sinceridade!Mas não aquela imprudente, que magoa, que beira o sarcasmo, que deflora e expõe a intimidade. Nem aquela que somente cala e deixa que o outro a intua, a perceba. Não aquela louca, utópica , dos excêntricos, e que a cada dia mais sós, apenas conseguem granjear inimizades ou a complacência dos "sãos" aos loucos...

Creio que devamos sim, ser o mais perfeita e conscientemente sinceros. Isso significa, repito, conhecer-se primeiro; daí conhecemos o outro. Respeitar-se primeiro; daí não violaremos o outro. Falar após reflexão; assim, as críticas no futuro serão melhores e nossas chances de sermos compreendidos em nosso pensamento aumentarão. Na verdade, sinceridade é essencial. Mas creio não ser possível vivê-la plenamente sem que se rasguem as entranhas da intolerância ao diferente, do respeito ao discernimento do outro. Sigamos com nosso exemplo - pausado, mas refletido; mas, não nos esqueçamos que o outro poderá não entendê-lo...poderá - o que é pior - deturpá-lo ou desacreditá-lo...Sigamos, mesmo assim...

Deixo abaixo alguns pensamentos sobre Sinceridade e um fragmento de texto de Montesquieu:

"A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis" (Marquês de Maricá)

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal" (Oscar Wilde)

"Não há no mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil do que a lisonja" (Dostoievski- Crime e Castigo)

"Estamos tão familiarizados com a hipocrisia que a sinceridade de alguém nos parece um sarcasmo" (Helena)

"Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-lhe" (Friedrich Nietzsche)



SINCERIDADE PROSCRITA

A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo; e a cerimônia, que deveria ater-se inteiramente ao exterior, introduz-se nos nossos costumes mesmos.

A ingenuidade deixa-se aos espíritos pequenos, como uma marca da sua imbecilidade. A franqueza é olhada como um vício na educação. Nada de pedir que o coração saiba manter o seu lugar; basta que façamos como os outros. É como nos retratos, aos quais não se exige mais do que parecença.Crê-se ter achado o meio de tornar a vida deliciosa, através da doçura da adulação.

Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer é olhado como o perturbador do prazer público. Evitam-no, porque não agrada; evita-se a verdade que anuncia, porque é amarga; evita-se a sinceridade que professa, porque não dá frutos senão selvagens; temem-na porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais cara das paixões, porque é um pintor fiel, que faz com que nos vejamos tão disformes como somos.

Não há por que nos espantarmos, se ela é rara: é expulsa, proscrita por toda a parte. Coisa maravilhosa: só a custo encontra asilo no seio da amizade!

Seduzidos sempre pelo mesmo erro, não fazemos amigos senão para dispormos de pessoas particularmente destinadas a comprazer-nos: a nossa estima acaba com a sua complacência; o termo da amizade é o termo dos agrados. E tais agrados que são? Que é o que nos agrada mais nos nossos amigos? São os contínuos louvores, que deles recolhemos como tributos. (in Elogio da Sinceridade)

4 comentários:

  1. Belo texto, gostei muito!!!
    Estou passando para deixar a vc meu carinho e lhe desejar uma ótima semana.
    Beijinhos
    Ângela

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  2. Lindo texto, amei. Adoro sinceridade, mesmo que esta venha doer....
    mas é essencial.
    Bjs
    ANdresa

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  3. Gostei muito deste texto, profundo. Acerca da espada, "mais fere a palavra que a espada" Cuidado com as palavras. :)

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