quinta-feira, 29 de outubro de 2009

São Francisco: Capítulo V

São Francisco (portalcot.com)



Certo dia em que o homem de Deus viajava pela Apúlia, encontrou no caminho uma grande bolsa cheia de moedas. Vendo-a, seu companheiro quis apanhá-la para gastar com os pobres, mas ele não permitiu de forma alguma, dizendo: “Filho, não é permitido pegar os bens alheios”. Mas como ele insistiu muito, Francisco, depois de breve oração mandou recolher a bolsa, que não continha dinheiro e sim uma cobra. Ao vê-la, o frade teve medo, mas, como não queria obedecer e executar a ordem que recebera, pegou a bolsa com as mãos e dela saiu uma grande serpente. E o santo disse: “O dinheiro para os escravos de Deus, não é outra coisa que o diabo, a serpente venenosa”.

Um frade que sofria de forte tentação pensou que, se tivesse consigo algum papel escrito pelo santo, a tentação cessaria imediatamente, mas hesitava em pedir, quando o homem de Deus o chamou: “Meu filho, traga-me papel e tinta , pois quero escrever alguma coisa em louvor a Deus”, E depois de ter escrito, disse:” Tome este papel e guarde-o cuidadosamente até o dia da sua morte”. Imediatamente toda a tentação afastou-se dele.

Quando o santo estava doente, o mesmo frade pôs-se a pensar: “ Aqui está o pai, prestes a morrer, e seria um grande consolo para mim se depois da sua morte eu tivesse a sua túnica”. Pouco depois São Francisco chamou-o: “ Dou esta túnica para você e depois de minha morte ela será sua de pleno direito”.

Ele fora hospedado em Alexandria, na Lombardia, na casa de um homem honesto que lhe pediu para observar o Evangelho e comer tudo que fosse servido. Quando por devoção ele assentiu, o anfitrião apressou-se em preparar-lhe um capão de sete anos para a refeição. Enquanto estavam à mesa, um infiel pediu esmola pelo amor de Deus. Logo que ele ouviu o bendito nome de Deus, mandou entregar ao mendigo um pedaço do leitão. O miserável guardou-o e no dia seguinte, enquanto o santo pregava, mostrava-o dizendo: “ Eis que tipo de carne come esse frade que vocês honram como santo; foi ele que me deu isso ontem à noite”. Mas a todos a perna do leitão pareceu peixe. O mendigo foi acusado pelo povo de louco, compreendeu o que ocorria, enrubesceu, pediu perdão, e quando o prevaricador foi embora a carne voltou a ser o que era.

Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O último discurso


Em 1939, a Alemanha de Hitler sonhava a utopia da superioridade ariana e da expansão tentacular a qualquer preço - um deles, a extinção do povo judeu. Em 15 de outubro de 1940, Sir Charles Spencer Chaplin Jr (Londres, 16 de abril de 1889/25 de dezembro de 1977, autor, diretor, roteirista e músico) lançou o filme O Grande Ditador, uma imortal, célebre obra de crítica aos ideais fascistas e nazistas, ao totalitarismo correntes à época em grande parte da Europa.


Este foi o primeiro filme sonoro de Chaplin, inaugurando um canal de expressão mais forte no roteiro de um discurso. Chaplin magistralmente interpretou dois personagens: um ditador e um barbeiro judeu, fisicamente idênticos. Há várias cenas inesquecíveis neste filme. Algumas silenciosas (como na sequência em que o ditador brinca com um globo terrestre) mas, nas cenas onde há som é poderosa a força da mensagem falada a atingir - ferina e crítica - o contexto político da época. O Último Discurso, cena que coroa todo este grande filme impressiona por sua atualidade: não há como ficar impassível frente àquelas palavras...Ao discurso totalitário de um sobrepõe-se o discurso do outro pregando a fraternidade universal...

Se àquela época vivia-se o terror da Segunda Guerra Mundial, ainda hoje o homem convive com a insanidade de guerras esparsas que parecem não ter fim e a angústia é a mesma. Precisamos rever, reler os grandes discursos - todos, sejam dos grandes ditadores, dos grandes pensadores, dos sábios, dos humildes, dos ignorantes, das crianças, da Natureza. Precisamos erguer os olhos como Hannah (referência à filósofa judia Hannah Arendt, 1906-1975 e, talvez à própria mãe de Chaplin) e acreditar que sairemos todos "da treva para a luz"...

Talvez o primeiro passo para isso seja a capacidade de extrair de cada discurso, de cada noticiário de jornal, de cada incidente doméstico a pergunta e a resposta que eles carregam intrinsecamente. Há sempre algo que podemos aprender, apreender, desde que nos propomos a arguir. Não podemos perder nossa capacidade de nos entristecer com o sofrimento alheio, não podemos assistir anestesiados aos noticiários e crê-los distantes.

Chaplin não se deixou embrutecer, nem se calou perante os fatos de sua época. Seu filme foi inicialmente mal recebido pela crítica e desencadeou a sua saída dos EUA.Temos muito a aprender com Chaplin e seus personagens (com o Charlot, ou em alguns países, Carlitos, com o ditador e com o barbeiro judeu). Seu canal de expressão foi o cinema...e o nosso, qual é?

Transcrevo abaixo, na íntegra, o texto de O último Discurso e, em video a cena antológica .

O ÚLTIMO DISCURSO

"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá”.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unâmo-nos!

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"

Ficha Técnica:
Origem: E.U.A. - 1940
Duração: 123m (pb)
Autoria: Charlie Chaplin
Produção: Charlie Chaplin
Realização: Charlie Chaplin
Fotografia: Karl Strüss e Roland Totheroh
Música: Meredith Wilson
Com: Charlie Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oakie, Billy Gilbert, Henry Daniell, Reginald Gardner, Grace Hayle, Maurice Moscovich, Emma Dunn.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

São Francisco: Capítulo IV

Foto : cot.org.br


As lágrimas que São Francisco constantemente derramava fizeram-no contrair uma doença nos olhos, e quando o aconselharam a parar de chorar respondeu: “ Não é por amor a essa luz que temos em comum com as moscas que se deve renunciar a ver a luz eterna”. Seus irmãos insistiram para ele remediar o mal com uma operação, e quando o cirurgião tinha na mão um instrumento de ferro incandescente o homem de Deus disse: “ Meu irmão fogo, seja bondoso e cortês comigo. Rogo ao Senhor que o criou que amenize para mim seu calor”. E assim dizendo fez o sinal-da-cruz sobre o instrumento que foi enfiado na sua delicada carne, pela orelha até a sobrancelha, sem que sentisse dor alguma, como ele próprio relatou.

O escravo de Deus estava gravemente doente no ermitério de Santo Urbano. Sentindo que a natureza estava enfraquecida, pediu para beber um pouquinho de vinho, mas como não havia, levaram-lhe água, que ele benzeu fazendo o sinal-da-cruz e no mesmo instante ela foi transformada em ótimo vinho. O que a pobreza daquele lugar deserto não podia fornecer, a pureza do santo homem conseguiu, e logo que provou o vinho ficou restabelecido.

Ele preferia ouvir insultos que louvores, e quando as pessoas exaltavam os méritos de sua santidade, ordenava a algum irmão que proferisse palavras aviltantes. E quando o irmão, muito a contragosto, chamava-o de rústico, mercenário, inábil e inútil, ele dizia, todo alegre: “ Que o Senhor o abençoe por dizer coisas verdadeiras e mais convenientes de ouvir”. O escravo de Deus preferia ser inferior a superior, obedecer a comandar. Por isso se demitiu do comando geral da Ordem e pediu um guardião, a cuja vontade estaria sujeito em tudo. Prometeu e praticou sempre a obediência em relação ao irmão com quem costumava andar.



Fonte: Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

São Francisco: Os Estígmas - Capítulo III

Os estigmas de São Francisco de Assis, por Cimabue


Em uma visão, o escrevo de Deus viu acima dele um serafim crucificado que lhe imprimiu as marcas de sua crucificação de maneira tão evidente que parecia ter sido ele próprio o crucificado. Suas mãos, seus pés e seu flanco foram marcados com as feridas da cruz, mas com cuidado ele escondeu dos olhos todos os estigmas. Alguns, no entanto, viram-nos enquanto ele vivia, e após sua morte muitos puderam examiná-los. A existência real desses estigmas foi confirmada por muitos milagres, dos quais basta relatar dois, ocorridos depois de seu falecimento.
Na Apúlia, um homem chamado Rogério, que tinha sob os olhos a imagem de São Francisco, pôs-se a pensar: “ Será verdade que ele foi honrado com tão glorioso milagre, ou foi uma piedosa ilusão ou mesmo uma simulação intencional de seus irmãos?”. Enquanto remoia tais pensamentos, ouviu de repente um ruído semelhante ao de um dardo lançado por um balista e sentiu-se gravemente ferido na mão esquerda, mas apesar de não haver nenhum rasgo em sua luva, tirando-a descobriu na palma da mão uma profunda ferida como feita por uma flecha. Ela ardia tanto que parecia que ia desmaiar de dor e de ardor. Ele se arrependeu e testemunhou acreditar na realidade dos estigmas e dois dias depois orando para São Francisco, ficou curado.
No reino de Castela, um devoto de São Francisco foi atacado por engano por alguém que pretendia matar outra pessoa, e foi deixado semimorto. O cruel bandido enfiou depois a espada na sua garganta, e não conseguindo retirá-la, fugiu. Chegou gente de todo o lado, houve muitos gritos e ele foi chorado como sendo um homem morto. Quando à meia noite o sino dos frades soou para as matinas, sua mulher começou a gritar: “ Levante-se, meu senhor, vá às matinas que o sino chama”. Imediatamente o ferido ergueu a mão e pareceu fazer sinal a alguém para que tirasse a espada, que diante de todos foi jogada longe como se tivesse sido arrancada por um punho muito vigoroso. No mesmo instante o homem levantou-se perfeitamente curado dizendo: “ O bem-aventurado Francisco veio a mim e, colocando seus estigmas sobre minhas feridas, encheu cada uma delas de um bálsamo suave que as curou maravilhosamente. Como ele queria se retirar, eu lhe fazia sinal para arrancar a espada, porque não podia falar. Ele a tirou e com força, e logo curou completamente minha garganta passando seus estigmas sobre ela.”



Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia 15 de outubro: Dia do Professor


Tive inúmeros professores em minha vida acadêmica e inúmeros que não portavam esse título e, que me ajudaram na construção do que hoje sou. Interessante como nos lembramos de poucos...geralmente daqueles que nos exigiam mais em termos de desempenho escolar...

Poucos alunos se dão conta de que aqueles professores que lhes exigem horas extras de estudo são os que realmente irão marcá-lo, irão contribuir na sua futura formação profissional. Pensa-se - equivocadamente - que um professor "bonzinho", que fecha os olhos às "colas" em época de prova, que exige pouca pesquisa é um bom professor.

Lembro-me de um professor que, certa vez, me "exigiu demais". Estava em minha última faculdade e, deveríamos fazer pesquisas - como parte da aula - em um computador. Não sabia sequer ligá-lo! Sentí-me envergonhada perante meus jovens colegas; via-me atrapalhando o rendimento de suas pesquisas, por terem de pará-las a todo instante para me dar explicações sobre como começá-la...

Um dia, fui procurá-lo para expor a minha angústia, minha inconformação com o que considerava ser-me prejudicial. Afinal, existem outras formas de se fazer uma pesquisa - pensava eu nos livros...Nunca esquecerei o que esse professor me disse. Não sei se por minha sinceridade no falar, naquele dia descobrí um homem no mestre e, um mestre no homem...

Aquele homem fez-me um breve resumo de sua vida até aquele momento (grau de Mestrado a caminho do Doutorado); contou-me de uma vida de pobreza, sacrifícios, de vontade de progredir, estudar e nobreza de caráter. Falou-me à época que ainda não dispunha de dinheiro para comprar um computador, pois enviava dinheiro para seus velhos pais. Mostrou-me que eu pagava - e caro - por uma faculdade que, entre outras coisas, me disponibilizava um computador. Que aprendesse a lidar com ele!

Ví depois a imensa sabedoria daquele homem...Aquele que realmente vê em seu aluno o profissional em latência que um dia será, força-lhe conhecer os diversos tipos de instrumentos para que se enriqueça e se amplie o seu futuro profissional...E sabia ele, não descurado o valor de uma biblioteca, da qual também não se pode prescindir: a Internet é uma poderosa fonte de pesquisas.

Quando vejo crianças e jovens se perguntando do porquê são obrigados a estudar determinada matéria que "não gostam", lembro-me do meu professor. Olho para eles - num misto de carinho e solidariedade pelo que fui - e rogo a Deus que lhes dê um professor como o que eu tive...

O processo de aprendizagem é complexo e existem várias concepções do que é ensinar, como ensinar, o que ensinar, para que ensinar, como transmitir, enfim, um determinado conhecimento. Várias pesquisas têm sido desenvolvidas nas áreas de Psicologia e Educação, particularmente, devido às críticas que vêm sendo feitas à forma de ensino nas escolas, o que denota uma preocupação dos educadores com a qualidade do que é apreendido pelo aluno. Isso tudo é muito importante quando se consideram questões como: O que realmente o aluno aprende? Quanto da forma como o professor expõe o conteúdo da matéria interfere na compreensão do aluno sobre esta matéria? Quantos alunos adquirem "raiva" de determinada matéria devido ao professor? Quantos alunos terão sua futura escolha profissional embasada em determinada matéria que certo professor, uma vez, lhes apresentou?

A todos os professores, deixo minha mensagem de carinho pelo seu dia. Minha gratidão àqueles que me ajudaram na construção de mim mesma - sejam os de uma escola, sejam aqueles ou aquilo que me cerca...Particularmente àqueles dos quais me lembro, meu respeito, minha admiração e a certeza de que hoje sei que à época estavam certos...Àquele professor ao qual me referí, meu abraço sincero , saudoso e cheio de orgulho!

Creio que todo professor, enquanto tal (aqui não me refiro, pois, àqueles que não têm consciência de que o são a todo instante, isto é, as pessoas com as quais convivemos no nosso dia-a-dia, excluído o meio escolar) deveria ter essa consciência de que a forma como transmite seu saber é crucial na simpatia/antipatia por determinado campo do saber. A forma com que se doa à nobre profissão é plenamente percebida pelo estudante; um bom professor será assim lembrado no futuro, porque se irmanava com seus alunos na busca do aprendizado...Se sempre aluno, esmerava-se como professor no repassar daquele pouco que julgava dominar e assim realmente transmitia...

Deixo abaixo um texto que considero bastante pertinente e, também, uma homenagem a todos os professores pelo seu dia.

Parábola ao professor

"És o semeador da parábola.
Não te preocupes onde caem as sementes.
Semeia sempre.
A cada um será dado segundo suas obras.
Se tua semente não germina, examina com confiança tuas ações;
Faze tua auto-crítica: reconhece teus enganos; recomeça com teu exemplo, com
humildade, lutando contra os desenganos da vida, semeando o amor, o respeito, a fé, a
confiança no próximo e em Deus.
E se ainda, não brota a tua semente, insista sempre, com paciência, regando com amor a
terra árida da sementeira alcançando o adubo da compreensão, removendo a mata da
discórdia e deixando que a luz do Sol da fé possa trazer seus raios para a floração
perfeita da primavera.
E no fim de cada jornada de trabalho, ora a Deus pedindo-lhe amparo e proteção, para
que tua paciência não falte, para que teu amor não se esgote.
Luta com confiança contra todos os obstáculos que possam surgir na caminhada de
Mestre e Professor." (desconheço a autoria)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

São Francisco: Capítulo II


São Francisco costumava se alojar como convidado na casa de Leão, cardeal de Santa Cruz, quando uma noite os demônios foram espancá-lo com grande violência. Ele chamou seu companheiro e disse:
Os demônios são os fiscais de Nosso Senhor destinados a punir nossos excessos. Como não me lembro de ter cometido uma falta que não tenha expiado com a misericórdia de Deus e com penitência, talvez Ele tenha permitido que seus fiscais se lançassem sobre mim porque continuo hospedado na corte de nobres, o que pode despertar suspeitas em meus pobrezinhos frades vendo-me no meio de abundantes delícias. Ele se levantou bem cedo e foi embora.

Um dia estava em oração quando ouviu no telhado da casa bandos de demônios que corriam fazendo grande ruído. Ele saiu rapidamente e fazendo sinal-da-cruz sobre si, disse: “ Da parte do Deus onipotente, digo a vocês, demônios, que parem com o barulho. Façam com o meu corpo tudo que for permitido a vocês, pois estou disposto a suportar já que, não tendo maior inimigo que meu corpo, vocês me vingarão do meu adversário por mim”. Confusos, os demônios desvaneceram-se.

Em êxtase, um frade, companheiro do homem de Deus, viu entre os tronos do Céu um deles digníssimo, fulgurante de nobre glória. Cheio de admiração, ele se perguntava a quem esse brilhante trono estava reservado, e ouviu: “Esse trono foi de um dos príncipes expulsos, e agora está preparado para o humilde Francisco”. Depois de uma oração, ele perguntou ao Homem de Deus: “ Que opinião você tem de si mesmo, pai?”. Ele : “ Eu me considero o maior pecador”. E imediatamente o Espírito Santo disse no coração do irmão: “ Saiba que o que você viu na visão é verdade, porque a humildade elevará o mais humilde de todos ao trono que foi perdido por soberba”.

Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

terça-feira, 6 de outubro de 2009

São Francisco: Capítulo I


São Francisco escreveu uma regra evangélica para si e para seus irmãos presentes e futuros. Após confirmada pelo papa Inocêncio, começou a difundir com mais fervor do que nunca a semente da palavra de Deus e a percorrer cidades e aldeias, animado com admirável zelo.
Certa vez, chegando a Arezzo, onde ocorria uma guerra civil, viu no ar das redondezas demônios que se alegravam com isso. E chamando seu companheiro Silvestre disse-lhe: “ Vá à porta da cidade, e da parte de Deus onipotente ordene aos demônios que saiam de lá”. Ele foi rapidamente até a porta, onde gritou com força: “ Da parte de Deus e por ordem do nosso pai Francisco, saiam todos, demônios”. Pouco tempo depois a concórdia foi restabelecida entre os cidadãos.
São Francisco estava em oração e o diabo chamou-o três vezes pelo nome. O santo perguntou o que ele queria e o diabo respondeu: “ Não há neste mundo nenhum homem, por mais pecador que seja, por quem o Senhor não tenha misericórdia, se ele se converte, mas aquele que se matar por uma dura penitência jamais encontrará misericórdia”. Imediatamente conheceu por revelação a malícia do inimigo, que se esforçara por fazê-lo cair na tibieza. Mas o antigo inimigo, vendo que não prevaleceria assim, inspirou-lhe uma forte tentação da carne. Sentindo-a, o homem de Deus despojou-se de seu hábito e golpeou-se com uma corda fina e dura dizendo: “ Eia, irmão asno, não se mexa, pois é preciso sofrer com o chicote”. Mas como a tentação demorava a passar, jogou-se completamente nu na neve espessa e depois fez com a neve sete blocos arrumados em pilha e começou a falar com o corpo: “ Veja, este maior é sua mulher, os outros quatro, dois são seus filhos e dois suas filhas, os dois restantes são seu escravo e sua escrava. Apresse-se em vestir a todos, pois estão morrendo de frio, mas se esses múltiplos encargos o importunam, sirva o Senhor com solicitude”. Imediatamente o diabo retirou-se, confuso, e o homem de Deus voltou à sua cela, glorificando a Deus.

Fonte: Legenda Áurea, Jacopo de Varazze

A cultura da descartabilidade


O processo de industrialização iniciado na Revolução Industrial teve inúmeras consequências, entre elas, a produção acelerada de bens de consumo, o crescimento do comércio e o nascimento das indústrias. Ao propiciar o acesso a produtos que antes eram privilégio de poucos, inaugurou também uma nova era cultural. Em um mundo onde tudo e todos podem ser comprados surge o consumismo.

Este fenômeno da sociedade contemporânea ampara-se nas técnicas de marketing, sustenta-se e é influenciado pela propaganda - ambas embasadas na Ciência (Psicologia, por exemplo) -, as quais ditam normas sobre o que consumir, e geram uma inversão de valores entre o útil e o necessário. Entre este e aquele permeia o descartável. O necessário ou o útil de hoje, fatalmente, sê-lo-á supérfluo amanhã...

Assim, já não nos contentamos em ter dois ou três pares de sapatos e algumas trocas de roupas, e enchemos nossa sapateira e nosso guarda-roupas com inúmeros calçados e roupas que se tornarão "demodê" na próxima estação...A sensação é a de que escravizantes convenções ditam normas sobre o que é belo, sobre o que é bom. Ao ditar o belo, implícito está o feio, o que não deve ser usado. Estar na moda é garantia de aceitabilidade durante alguns meses... Não questionamos o quanto a beleza imposta é dogmática, fere o subjetivo, a percepção individual, atenta contra a diversidade...

A imposição do supérfluo faz-se notar em todas as fases de nossa vida. Antes mesmo de nascer, várias crianças são esperadas com todo um aparato de roupinhas e brinquedos supérfluos; diferentes ícones anuais seduzem as crianças na escolha de suas mochilas escolares; diversos acessórios e roupas erotizam mais cedo os jovens; a tecnologia nos permite que a satisfação dure apenas o instante da obtenção de nosso novo aparelho (TV, celular, PC etc.), pois que novos aparelhos de maiores recursos são lançados no mercado a uma velocidade vertiginosa...

Em nossa maturidade, matâmo-nos no trabalho , em detrimento da convivência no lar, para amealharmos recursos que nos possibilitem comprar sonhos. Em nossa velhice abundam opções de turismo e lazer que nos fazem desvalorizar o que conseguimos por nunca achá-los suficientes...

Este mundo industrializado fez nascer novas exigências no mercado, qualificações outras para o mundo do trabalho. Profissões foram desvalorizadas ou extintas; condenou-se o artesanal a produto raro. Um exemplo: a moda pret-à-porter. Esta expressão, que significa "pronto para usar", para vestir, surgiu em 1946 com J.C.Weill e foi inspirada na expressão norte americana "ready to wear". Refere-se à roupa comprada pronta em lojas, seja fabricada industrialmente, ou feita à mão. A moda pret-à-porter inaugurou a decadência de profissões como costureiras e sapateiros, bastante comuns a algumas décadas. Saber costurar, inclusive, fazia parte da preparação de uma jovem para o casamento...Hoje, quando encontramos costureiras e sapateiros, o nobre ofício se restringe a pequenos consertos...Nossas roupas, nossos calçados, encontrâmo-los em lojas em grande quantidade e, às vezes, baixa qualidade...Consertá-los talvez saia mais caro: é melhor descartá-los...

A par dos grandes benefícios que a industrialização nos proporcionou penso ser salutar uma reflexão sobre suas consequências. E uma delas é a criação de uma cultura da descartabilidade e o quanto ela nos afeta. Hoje consumimos de tudo e de todos; as pessoas buscam cada vez mais a felicidade mas, esta é vista, assim como o prazer, como um artigo de consumo...A grande frustração das relações ocorre, na maior parte das vezes, pela sua fugacidade...
A cultura da descartabilidade caracteriza-se pela efemeridade; seu paradigma engloba muito mais do que a aquisição de produtos, invadindo o âmago de nossas relações interpessoais, gerando uma fragilidade, uma incerteza na construção de vínculos sólidos, estáveis. O reflexo do mundo do descartável: pessoas descartáveis!

Houve uma substituição de sentimentos como amor, companheirismo por desconfiança, competitividade. Os relacionamentos de hoje caracterizam-se por serem de curto prazo ou mesmo virtuais. O "ficar" ( gíria dos jovens que se refere ao "namoro" de um dia só) dos jovens é um exemplo do consumismo afetivo. Substituem-se pessoas como substituem-se máquinas; vendem-se conselhos e orientações no profissionalismo bem pago de consultórios e escritórios...Busca-se a compra da felicidade; porém, a satisfação de tê-la dura apenas o instante da compra...

O imediatismo nos faz consumir fast-foods, alimentos semi-prontos, instantâneos , de rápido preparo e nos reúne em mesas de restaurantes...Faz-nos desvalorizar a dona de casa, alienarmo-nos com relação à fabricação do necessário, pois que já não temos tempo para produzir nosso próprio alimento e, nem mesmo sabemos como fazê-lo...

A cultura da descartabilidade escancara uma consequência: o lixo dos produtos, o lixo humano dos excluídos, o lixo dos valores, o lixo do original, o lixo da sensibilidade, o lixo da música (?!) que só dura um mês...o lixo da notícia do jornal (que só dura até a próxima...).

É preciso repensar onde colocaremos tanto lixo. Se dos produtos já se evidencia a necessidade da reciclagem, em prol da saúde do Planeta, como faremos com os sub-produtos, resíduos de nossas relações? Não sou descartável; não temos de ser descartáveis.

Alertêmo-nos e alertemos nossas crianças, vítimas da sociedade consumista que criamos! Saibamos orientarmo-nos e orientá-las para o assédio das propagandas, da publicidade que tudo vende e impõe necessário. Saibamos discernir e abrir-lhes os olhos no discernimento do essencial. Vigiêmo-nos e vigiêmo-las para que saibamos identificar o lado patológico do consumismo: a compra desenfreada e sintomática de bens desnecessários.
Não estou aqui tentando, na contramão da História, fazer uma apologia pela volta à "simple life"...Como no programa de TV, infelizmente seria ridículo e hilário...Apenas dei-me conta, ao vir morar numa chácara, do quanto nos cercamos de uma parafernália de coisas ditas imprescindíveis...Dei-me conta do quanto é prazeroso fazer e comer o próprio pão, do quanto são belos os sons da Natureza que a cidade afasta e abafa; do quanto o essencial não se encontra nas propagandas de TV e nas vitrines das lojas...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre a sinceridade


A palavra "sinceridade" vem, etimologicamente, do latim sincerus. Há duas explicações para sua origem - que encontrei na Rede.Vejâmo-las.A primeira é que foi inventada pelos romanos. Estes produziam vasos com uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos se conseguia ver objetos que estivessem no interior do vaso, olhando-se por fora. Para esta perfeição da arte antiga os romanos diziam: "Como é lindo, parece até que não tem cera!" "Sine cera" queria dizer "sem cera", uma qualidade de um vaso perfeito, raro, de grande valor que deixava ver através de suas paredes.

Outra explicação da origem: quando os oleiros fabricavam seus vasos, alguns rachavam e apresentavam pequenas frestas pelas quais se perdia o valioso líquido depositado nos vasos. Uma das soluções encontradas foi tapar as frestas com cera...Vasos "sem cera" eram autenticamente íntegros, sem remendos. Vasos "com cera" tinham aparência de autênticos, mas não eram.

Um ponto em comum em ambas as explicações é o caráter de autenticidade, de virtude. Com a evolução dessa palavra, associâmo-la hoje com franqueza, lisura de caráter, ausência de falsidade. Mas o que significa realmente ser sincero? Será mesmo uma virtude ou algo que pode incomodar o outro? À semelhança do vaso, deixar ver os sentimentos que nos vão dentro do coração, nem sempre é bem recebido com olhares de admiração...

Há uma estreita relação entre sinceridade e verdade; porém, não se confundem. Ser sincero implica em auto conhecimento; não basta dizer a verdade, o que se pensa para outra pessoa: é preciso sê-lo e dizê-la, primeiramente, para si mesmo. E arguir-se: estarei com minha conduta contribuindo para um relacionamento autêntico?

Sinceridade pode ser notada no olhar, no gesto espontâneo; não diz mais do que precisa. Já a verdade, por exemplo, realiza mais do que se propõe...A sinceridade caminha ladeada pelo respeito e pela tolerância: ao outro, ao seu próprio tempo e, se necessário, sabe se calar numa eloquência muda .

É possível viver com sinceridade nesses tempos onde impera a hipocrisia, onde se maquiam sentimentos pela fugacidade dos próprios relacionamentos? Onde há uma cultura que endeusa o descartável, uma virtualidade que constrói perfis nas redes de relacionamento? Onde aparentar ser ganha mais pontos que ser? Onde tê-la na Política? Onde esse "homem verdadeiro" que à luz das modernas lanternas tão somente consegue o resultado frustrado de Diógenes a 400 a. C.?

Penso que na sinceridade há uma flecha que pode ferir desmesuradamente; há uma faca de dois gumes: um que retira as cascas de si mesmo, revelando a essência insubornável e, outra que fere o dedo de quem a usa por haver aprofundado o corte nas aparas ( de sí e de outrem)...A verdade que se escancara, por vezes, na sinceridade de um comportamento, pode revelar um lado desconhecido - de nós mesmos ou do outro. A ausência de medida poderá transformar o néctar em enjoativo doce e o sal da gota em insalobra bebida...

Qual o equilíbrio? Se é certo que os excessos são nefastos, penso que sim! devemos ser e cultivar a sinceridade!Mas não aquela imprudente, que magoa, que beira o sarcasmo, que deflora e expõe a intimidade. Nem aquela que somente cala e deixa que o outro a intua, a perceba. Não aquela louca, utópica , dos excêntricos, e que a cada dia mais sós, apenas conseguem granjear inimizades ou a complacência dos "sãos" aos loucos...

Creio que devamos sim, ser o mais perfeita e conscientemente sinceros. Isso significa, repito, conhecer-se primeiro; daí conhecemos o outro. Respeitar-se primeiro; daí não violaremos o outro. Falar após reflexão; assim, as críticas no futuro serão melhores e nossas chances de sermos compreendidos em nosso pensamento aumentarão. Na verdade, sinceridade é essencial. Mas creio não ser possível vivê-la plenamente sem que se rasguem as entranhas da intolerância ao diferente, do respeito ao discernimento do outro. Sigamos com nosso exemplo - pausado, mas refletido; mas, não nos esqueçamos que o outro poderá não entendê-lo...poderá - o que é pior - deturpá-lo ou desacreditá-lo...Sigamos, mesmo assim...

Deixo abaixo alguns pensamentos sobre Sinceridade e um fragmento de texto de Montesquieu:

"A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis" (Marquês de Maricá)

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal" (Oscar Wilde)

"Não há no mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil do que a lisonja" (Dostoievski- Crime e Castigo)

"Estamos tão familiarizados com a hipocrisia que a sinceridade de alguém nos parece um sarcasmo" (Helena)

"Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-lhe" (Friedrich Nietzsche)



SINCERIDADE PROSCRITA

A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo; e a cerimônia, que deveria ater-se inteiramente ao exterior, introduz-se nos nossos costumes mesmos.

A ingenuidade deixa-se aos espíritos pequenos, como uma marca da sua imbecilidade. A franqueza é olhada como um vício na educação. Nada de pedir que o coração saiba manter o seu lugar; basta que façamos como os outros. É como nos retratos, aos quais não se exige mais do que parecença.Crê-se ter achado o meio de tornar a vida deliciosa, através da doçura da adulação.

Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer é olhado como o perturbador do prazer público. Evitam-no, porque não agrada; evita-se a verdade que anuncia, porque é amarga; evita-se a sinceridade que professa, porque não dá frutos senão selvagens; temem-na porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais cara das paixões, porque é um pintor fiel, que faz com que nos vejamos tão disformes como somos.

Não há por que nos espantarmos, se ela é rara: é expulsa, proscrita por toda a parte. Coisa maravilhosa: só a custo encontra asilo no seio da amizade!

Seduzidos sempre pelo mesmo erro, não fazemos amigos senão para dispormos de pessoas particularmente destinadas a comprazer-nos: a nossa estima acaba com a sua complacência; o termo da amizade é o termo dos agrados. E tais agrados que são? Que é o que nos agrada mais nos nossos amigos? São os contínuos louvores, que deles recolhemos como tributos. (in Elogio da Sinceridade)

São Francisco de Assis : vida e obra em capítulos.

Ilustração: casadeportinari.com.br



Introdução


Francisco foi primeiramente chamado João, mas depois mudou o nome e passou a ser conhecido como Francisco. Essa mudança de nome parece ter se devido a muitas causas. Primeira causa, lembrar um milagre, o de ter recebido de Deus o conhecimento da língua francesa, daí sua legenda afirmar que sempre que estava pleno de ardor do Espírito Santo punha para fora suas emoções em francês. Segunda causa, divulgar seu ministério, daí sua legenda afirmar que foi como resultado da sabedoria divina que ele foi chamado assim, a fim de que por esse nome singular, inabitual, sua crença fosse conhecida mais rapidamente em todo o universo. Terceira causa, indicar resultados que devia obter, quer dizer, dar a conhecer que ele e seus filhos deviam tornar francos e livres muitos escravos do pecado e do demônio. Quarta causa, destacar a magnanimidade de seu coração, pois se os francos são conhecidos pela ferocidade, têm por natureza um espírito de verdade e magnanimidade. Quinta causa, cortar os vícios pela virtuosidade de sua palavra. Sexta causa, aterrorizar o demônio e afugentá-lo. Sétima causa, assegurar a virtude pela perfeição de suas obras e pela honestidade de sua maneira de viver. Estas três últimas causas estão associadas às franciscas, machados levados pelos cônsules de Roma como insígnia de terror, de segurança e de honra.

Francisco, escravo e amigo do Altíssimo, negociante nascido na cidade de Assis, consumiu seu tempo vivendo na vaidade até quase os vinte anos de idade. O Senhor serviu-se do chicote da enfermidade para corrigi-lo e transformá-lo subitamente em outro homem, no qual começou a se manifestar o espírito profético. De fato, quando junto com muitos outros foi capturado pelos guerreiros de Perúgia e colocado na prisão, todos os outros estavam tristes e só ele de alegre, por isso os demais presos o repreenderam e ele respondeu: “ Saibam que me regozijo porque serei venerado como santo no mundo inteiro”.




Fonte:Legenda Áurea; Jacopo de Varazze

domingo, 4 de outubro de 2009

Dia 4 de outubro: dia de São Francisco de Assis


Nascido em Assis (Itália) por volta de 1181/1182, foi batizado com o nome de Giovanni. O nome Francisco (em italiano Francesco: pequeno francês) foi-lhe dado pelo pai Petri di Bernardone que, como comerciante, achou por bem mudar o nome em homenagem à França - lugar onde realizava bons negócios. Foi canonizado em 1228 por Gregório IX.

Por seu grande amor aos animais, o dia 4 de outubro é também conhecido como o Dia Internacional da Ecologia, Dia da Natureza, Dia dos animais, Dia Mundial das crianças.

Acostumei-me a ver Francisco de Assis como um "santo". Porém, hoje não o vejo só assim...Vejo nesse excepcional homem um revolucionário que ousou criticar uma Igreja que se deteriorava a largos passos; vejo um apaixonado por Deus que conseguia ver a face do Amado em toda a Sua criação - fossem homens, animais, plantas, estrelas e planetas, forças naturais ( como a chuva, o vento, o fogo), aos quais chamava de irmãos...

Vejo um exemplo de desprendimento : Francisco não se isolava como um eremita, despojado de bens materiais e dependente da caridade alheia. .Vejo um exemplo de desprendimento : Francisco não se isolava como um eremita, despojado de bens materiais e dependente da caridade alheia.

Para se ter uma noção, na Ordem franciscana (e em sua vertente feminina, a Ordem das Irmãs Clarissas),os meios de subsistência são oriundos do trabalho individual, e só em último caso, é pedida ajuda externa.Não possuem bens de qualquer natureza.O voto de pobreza é seguido à risca : nem a própria roupa lhes pertence!. Seus trajes são humildes túnicas de grossa lã (com o significado simbólico de vestuário dos humildes) amarradas com uma corda na cintura e sandálias rústicas. O cordão contém três nós, símbolos dos votos de pobreza, obediência e castidade.

Em um mundo onde impera o poder do dinheiro, onde seitas cristãs associam o amor de Deus por seus eleitos à prosperidade, ao luxo traduzido por carros, mansões, fazendas e empresas; onde a pobreza é considerada uma "obra do Diabo" é muito difícil conceber alguém como Francisco de Assis...Somente um louco - diria-se hoje - faria o que ele fez, viveria como ele viveu...

Francisco veio de uma família abastada, onde teria um natural futuro de próspero, bem sucedido comerciante.Porém, desfez-se de todos os seus bens materiais para viver uma vida de oração viva em meio à pobreza...Naquele histórico momento, em que numa praça abdicou de sua herança frente a um pai estupefato, assistiu-se o nascimento de um homem ímpar...

Há alguns mistérios que cercam a vida de Francisco (por exemplo, o fenômeno das cinco chagas de Cristo, entre outros); há um lado místico de alguém altamente evoluído e, que ainda hoje desafia a Ciência.Independentemente do que possa ser inserido no campo dos milagres da fé, algo é digno de nota: a fidelidade aos seus altos princípios morais, sua irrepreensível conduta após a "iluminação", seu amor incondicional, seu pacifismo inimaginável à época em que viveu...Raros homens puderam ser tidos como exemplos de virtude ao longo dos séculos...Religiões vêm e vão; surgem umas, renascem outras tais quais Fênix; desaparecem , hibridizam-se e se transmutam em novas promessas divinas...Porém, avatares não morrem, nem se perdem suas palavras...
O que poderíamos hoje apreender do exemplo de Francisco? O abandono de bens materiais não deve ser seguido ao pé da letra em nosso mundo capitalista; entendâmo-lo como o desapego a estes bens como uma renúncia consciente do supérfluo; pensêmo-lo como uma barreira à ganância que produz workaholics(viciados em trabalho), ao muito dinheiro no bolso e poucos amigos leais, à baixa qualidade de vida,à fortuna que escraviza e transforma irmãos em inimigos após a morte do pai...

Tenho um oratório em minha sala (para desespero dos evangélicos que acreditam que cultuo imagens afrontando a Bíblia...) com uma escultura de São Francisco de Assis.Ela serve para me lembrar a cada dia os altos valores que devo desenvolver em mim...ela me fala, pelo evocar da conduta de Francisco, de Amor, de alguém que em relação às pessoas _ independentemente de seus credos, cor de pele, raça ou sexo dizia: "Todos os seres são iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e seu objetivo comum". TAU é a sua assinatura que espalha o amor universal, a paz e a humildade, o comedimento e equilíbrio nas situações do dia-a-dia...

Francisco de Assis morreu em 1226.Repetindo o episódio de seu nascimento, sua renúncia à vultosa herança paterna (onde se despiu em praça pública e entregou suas próprias vestes ao pai), entregou-se à morte nú. Suas palavras: 'Nú sobre o chão nú"!

Deixo abaixo duas poesias (orações) belíssimas. A primeira, Oração da Paz :


Senhor: Fazei de mim um instrumento de Vossa Paz!
Onde houver ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a Luz.
Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais:
Consolar, que ser consolado;compreender que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
É perdoando que se é perdoado e
É morrendo, que se vive para a vida eterna.
Amém.

O CÂNTICO DO IRMÃO SOL (OU LOUVORES DAS CRIATURAS)

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor Irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante
Com grande esplendor:
De ti Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela Irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo Irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela Irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo Irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa Irmã a Mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa Irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Aprendendo com o Sol...








Um feliz Outubro!

Seja como o Sol todos os dias!

Beijos
Helô Spitali